sábado, 3 de setembro de 2011

Problemáticos, Desmotivados e Indisciplinados?


            O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) gera enorme angústia para os pais e os portadores da doença. Crianças, adolescentes e adultos diagnosticados com TDAH são rotineiramente taxados de “problemáticos”, “desmoti­vados”, “avoados”, “malcriados”, “indisciplinados”, “irresponsáveis” ou, até mesmo, “pouco inteligentes”.
            Grande parte do que ouvimos e lemos sobre este assunto tem uma conotação negativa. Uma das razões disto é que o transtorno ainda é pouco conhecido no meio comum e até mesmo no meio onde deveriam ser amplamente difundido, entre professores, educadores, médicos e psicólogos. Estudos mostram que 3% a 5% das crianças em idade escolar são portadoras do TDAH, mostrando que a divulgação do Déficit é de suma importância.
            Nesta edição do Jornal da Educação vamos conversar com a psicope­dagoga clínica Doutora Ana Silvia Figueiral, especialista em dificuldades do aprendizado e no TDAH. Ela enfoca a importância de uma atenção especial dos pais e dos professores, para auxiliar as pessoas que possuem o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade.
Jornal da Educação - Dra Ana Silvia a senhora acredita que o TDAH ocorre apenas em crianças?
Dra. Ana Silvia - As características do Transtorno de Déficit da Atenção/Hiperati­vidade aparecem na primeira infância e se instalam antes dos 7 anos. Durante muitos anos, acreditou-se que os sintomas desapareciam na adolescência, mas hoje se sabe que 30% a 70% dos portadores mantém o quadro na fase adulta.
Jornal da Educação - Quais prejuízos que sofrem as pessoas com TDAH?
Dra. Ana Silvia - Os prejuízos são na adaptação às mais diversas situações de vida, causados pela desatenção, impulsivida­de e pela hiperatividade, mas o maior dano é para a auto-estima.
Jornal da Educação - Quais os problemas de aprendizado escolar que o TDAH acarreta?
Dra. Ana Silvia - Há os problemas decorrentes da desatenção e da falta de controle que ficam acentuados em grupo, dificultando a aprendizagem e a realização das tarefas. Associadas a estas dificuldades, a própria organização escolar não contempla as diferenças individuais, ensinando e avaliando todos os alunos da mesma forma e na mesma época. Os alunos portadores do TDAH têm um risco até três vezes maior de fracasso escolar quando comparados a alunos sem dificuldades e com inteligência equivalente. Acredita-se que em torno de 15% dos portadores do transtorno apresentem, como co-ocorrência, dificuldades no aprendizado da leitura, da escrita e do cálculo.
Jornal da Educação - Como os pais devem proceder ao ser diagnosticado o TDAH no seu filho?
Dra. Ana Silvia - Precisam se assegurar que o diagnóstico foi realizado por um profissional competente, conhecedor do Transtorno. A partir dessa certeza, devem ampliar ao máximo o seu conhecimento e compreensão sobre o assunto. Os Grupos de Apoio são uma oportunidade para compartilhar experiências com outras famílias. Ter sempre presente que todos os investimentos devem privilegiar as possibilidades e que, no caso do TDAH são a criatividade e o entusiasmo que os portadores apresentam. Há profissões onde estes dois fatores são condição de sucesso.
Jornal da Educação - Como deve agir um professor com aluno(s) com TDAH?
Dra. Ana Silvia - Primeiramente, entender que o aluno não é um problema, mas que ele tem um problema; que não é conseqüência da falta de educação e/ou de um “déficit” intelectual, mas que compromete tanto a conduta quanto o rendimento acadêmico. Isto já ajuda a mudar a relação inicial entre quem ensina e quem aprende. Informar-se sobre o Transtorno é fundamental e auxilia não só a compreender as manifestações como habilita o professor na aquisição de técnicas de manejo em sala de aula. São necessários limites e estruturas bem definidos que contemplem o comportamento, a organização da sala de aula e do material, os métodos de ensino/avaliação, além do tamanho e da quantidade de tarefas propostas em sala de aula e para casa. O mais importante é que o professor se permita ficar intrigado, curioso; que veja neste aluno uma oportunidade, uma oportunidade para aprender, porque “ler” um aluno deveria ser uma paixão em permanente construção para o docente.
Jornal da Educação - Existe alguma dica para pais e professores?
Dra. Ana Silvia - Uma situação muito comum que ocorre tanto em casa quanto na escola é a reação ou não reação do portador diante de uma instrução verbal, de uma ordem dada oralmente, porque há uma dificuldade para retenção. Ao dar a instrução, estabeleça contato visual, dê ordens simples e em pequeno número. Peça que ele repita a ordem e que até escreva, facilitando a retenção da informação e a possibilidade de autocomando, isto é, de falar para si mesmo enquanto está realizando a proposta. Não se esquecer que as pessoas aprendem e lembram 10% do que lêem, 20% do que ouvem, 30% do que vêem, 50% do que ouvem e vêem, 70% do que falam e escreve e 90% do que falam enquanto fazem.
É preciso ter em mente um procedimento básico, o procedimento dos 3 erres: rotina, regularidade e repetição.
Jornal da Educação - Em termos de tratamento o que a senhora destacaria como a melhor forma para a uma melhora ou cura da doença?
Dra. Ana Silvia - Não falamos em doença, em cura. Estamos tratando de um transtorno de adaptação Qualquer intervenção deve visar atenuar e manter os sintomas sob controle. Como educadora, vejo esses alunos passarem por situações desnecessárias, que poderiam ser modificadas a partir de um trabalho de parceria entre os especialistas e a escola. Não acho que esta responsabilidade deva ser imputada somente ao professor. Enquanto falamos de um professor por classe, a situação ainda é mais favorável. Entretanto, quando este aluno chega na 5a.série ficará exposto a uma situação completamente nova, que exige dele muito organização e atenção, dois fatores altamente comprometidos no portador do Transtorno. Além disso, os professores são em maior número e convivem menos tempo com o aluno. Como o fracasso escolar afeta um número expressivo dos portadores, acredito que um trabalho eficiente entre a psicopedagoga, a família e a escola, pode diminuir os riscos dos problemas escolares, evitando o recurso da repetência que, nesses casos, representa mais uma punição do que uma solução.
Jornal da Educação - Que livro a senhora indicaria para os leigos?
Dra. Ana Silvia - Há livros traduzidos e também produções brasileiras de ótima qualidade, além de sites e vídeos. Entre os mais esclarecedores para pais e professores, posso destacar Transtorno de Déficit de Atenção/Hipera­tividade, de Russell Barkley (Editora Artmed); Transtorno de Déficit de Atenção/Hipera­tividade – O que é? Como ajudar?, de Luis A.Rohde e Edyleine B.P. Benczik (Editora Artmed) e No Mundo da Lua, de Paulo Mattos (Lemos Editorial). Um vídeo feito no Brasil e bastante educativo é o Déficit de Atenção/Hiperatividade, da série Saúde Brasil, produzido pela Aguilla Comunicação
Fonte: www.educacaoonline.pro.br

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