quarta-feira, 7 de setembro de 2011

As diversas faces da escola


       Como enfrentar o desafio de oferecer um ensino que respeite a cultura de cada comunidade

Paola Gentile

            Ter uma população formada por diversos grupos étnicos sempre foi motivo de orgulho para todos nós, brasileiros: o índio, morador mais antigo; os brancos colonizadores; os negros que para cá vieram como escravos; e os imigrantes, que encontraram aqui espaço para construir uma nova vida. Cada um deles com seus costumes, seus ritos e suas crenças. Mas será que essa diversidade sempre foi valorizada de verdade, tanto pela sociedade como pela escola? Será que soubemos respeitar e aproveitar essa multiplicidade de contribuições culturais?
            “Falar em diversidade significa constatar as várias diferenças sociais e culturais”, afirma Roseli Fischmann, professora de pós graduação da faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e coordenadora do grupo responsável pelo documento sobre Pluralidade Cultural dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
            “Reconhecer essa complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo”, diz textualmente o documento.
            Embora adversidade sempre tenha estado presente nas salas de aula – na formação heterogênea das turmas, nos diferentes ritmos de aprendizagem, no contato com as várias realidades sociais e culturais -, a  preocupação em atender a todos, sem exceção, é recente nas escolas brasileiras. “O predomínio da cultura dos colonizadores fez com que as outras manifestações fosse praticamente aniquiladas”, analisa Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.

O mito da igualdade

            Em sua história, o Brasil passou por várias ondas de nacionalismo exacerbado, principalmente nos períodos de regime político autoritário. A necessidade de manter unido o povo em torno de um poder centralizador, abafando reivindicações e necessidades “divergentes”, criou mitos como o do “Brasil sem preconceitos”, onde todos seriam tratados igualmente. Essas falsas verdades repercutiram também na educação. Os livros didáticos excluíam ou mostravam de forma caricata negros, índios e migrantes. “ As diferenças são parte da vida, não podem ser entendidas como exotismo ou extravagância”, ressalta Pretto. O sistema educativo, por sua vez, determinava a aplicação de um currículo único, sob o pretexto de oferecer uma educação igual para todos. A escola não se preocupava se em suas carteiras sentavam-se descendentes de iorubas ou de italianos, se os alunos viviam em uma comunidade de pescadores ou em grandes centros urbanos. Com isso, as características singulares de cada grupo ficaram excluídas – ou escondidas – durante décadas.

O resgate da singularidade

            Mas a mesma dinâmica histórica fez com que os movimentos sociais se colocassem como protagonistas desse processo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948; a Constituição da República, de 1988; e a publicação dos PCNs, com a inclusão dos temas transversais, em 1997, destacaram em seus textos a necessidade de respeitar todas as manifestações, Você, professor, está sendo chamado a trabalhar com essa diversidade, seja para ajudar a comunidade a resgatar sua história, seja para usar essa realidade como base para a transmissão dos conhecimentos. “Cabe a nós, educadores, respeitar as singularidades de cada grupo e, ao mesmo tempo, relacioná-las com o conhecimento mais amplo previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais”, afirma Lúcia Lodi, diretora de Políticas Educacionais do Ministério da Educação.

Interagir para aprender

            Ao trabalhar com diversidade, é importante que os resultados sejam amplamente divulgados. “Só a interação possibilita o acesso a outros conhecimentos”, ressalta Nelson Pretto. Nesse sentido, ele aposta nos meios de comunicação de massa como ferramentas para o registro e a divulgação de toda e qualquer manifestação. “ É mais fácil do que a gente pensa colocar pensamentos, inquietações e produções em rádios, televisões e sites comunitários, desde que se conheça como eles funcionam. Com base neles, deve-se estabelecer relações e contrapontos com culturas diversas ou semelhantes”, exemplifica Pretto.
            Neste encarte especial sobre diversidade cultural você vai descobrir como algumas escolas estão trabalhando no resgate da cultura da comunidade local. Escolhemos três iniciativas como exemplo – educação indígena, ensino em comunidades   remanescentes de quilombos e educação no campo – de que é possível a cada escola encontrar o melhor caminho para construir conhecimentos, valorizando as diferenças entre os vários modos de vida.

Fonte: Revista do Professor Nova Escola 

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