A teoria das Inteligências Múltiplas alcançou larga popularidade em quase todo mundo e, dessa forma, as idéias que enfatizavam seu emprego em sala de aula assumiram inevitáveis desvios. Em uma obra recente Gardner faz uma análise desses mitos, entre os quais destacamos: “§ Uma variedade de testes necessitam ser desenvolvidos para que possamos avaliar o potencial de cada uma das oito ou nove inteligências humanas”.
É um erro supor que possa se avaliar inteligências por testes, quantificando esse potencial. Uma avaliação coerente da inteligência espacial, por exemplo, deve permitir que o aluno explore uma área e perceba se consegue se orientar de maneira confiável, transferindo essa aprendizagem para áreas desconhecidas. Os estímulos, dessa forma, devem conduzir a um progressivo aperfeiçoamento que um criterioso diagnóstico, acompanhado de relatórios da ação do aluno (e não testes padronizados) revelará.
“§ Uma inteligência é mais ou menos como uma disciplina escolar e, dessa forma, a Língua Portuguesa por exemplo deveria explorar competências lingüisticas, a Matemática exploraria competências lógico-matemáticas e assim por diante.”
Nada mais errado que acreditar nesse mito. A inteligência é uma nova forma de construção de habilidades, baseada em capacidade e potenciais biológicos e psicológicos e não pode ser confundida com disciplinas escolares, que são organizações de saberes aglutinados por pessoas. Em qualquer disciplina é possível trabalhar-se uma ou várias inteligências.
“§ Uma inteligência é a mesma coisa que um estilo de aprendizagem ou um método de ensino.”
Um estilo de aprendizagem é uma abordagem que se aplica da mesma maneira em diferentes conteúdos; um método de ensino é uma seqüência de operações com vistas a determinados resultados e, dessa forma, o trabalho com estímulos às inteligências permite adaptar-se a diferentes estilos de aprendizagem e sua aplicação não constitui método de ensino que para ser implantado pressupõe a substituição do método utilizado. Gardner enfatiza que não existe "receita" pedagógica única e forma universal de trabalhar-se as múltiplas inteligências.
“§ A teoria das Inteligências Múltiplas é incompatível com a existência de uma inteligência geral.”
A teoria das Inteligências Múltiplas não questiona a existência de uma inteligência geral mas sim seu campo de conhecimento, admitindo que mesmo pessoas aparentemente bem dotadas em uma inteligência pouco serão capazes de realizar se não forem expostas a matérias que exijam essa inteligência.
Quanto mais "inteligente" e diversificado for o ambiente e quanto mais incisivas as intervenções de mediadores, mais capazes se tornarão as pessoas e menos importante será sua herança genética.
Buscando uma síntese seria possível afirmar que a Teoria das Inteligências Múltiplas endossa três proposições essenciais:
(a) Não somos todos iguais;
(b) Não temos com igual intensidade todos os tipos de inteligência pois temos mentes diferentes;
(c) A educação funciona de modo mais eficaz se essas diferenças forem levadas em consideração.
A essas proposições julgamos interessante acrescentar que um estímulo às inteligências somente ganha sentido se promovido através de um projeto, se estabelecido a partir de objetivos e trabalhados com pertinácia e com competência.
Celso Antunes
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