Segundo os cientistas, Fernando Louzada e Luiz Menna-Barreto, autores do livro “O sono na sala de aula”, os alunos mais novos deveriam ir para a escola mais cedo, enquanto os mais velhos deveriam estudar mais tarde. Os autores chegam a brincar, dizendo que a probabilidade do pai ser despertado pelo filho, num domingo às seis da manhã, diminui à medida que o filho cresce já que as crianças mais novas têm menos dificuldade de acordar cedo.
A afirmativa é fruto de estudo e pesquisa sobre a organização temporal dos seres vivos e, em especial, dos seres humanos. Hoje, já se sabe que a maior parte dos seres possui sistemas de temporização que controlam o comportamento. Algumas espécies passaram a concentrar suas atividades em determinados momentos do dia: a maioria dos roedores, por exemplo, é noturna, enquanto a espécie humana é diurna.
O ritmo biológico é afetado por fatores externos, como, por exemplo, a luminosidade, e internos, como oscilação da temperatura do corpo, da produção hormonal e de outras funções do organismo que sofrem alterações de acordo com a idade, as circunstâncias e a individualidade.
Mudanças na adolescência
No início da puberdade, por volta dos nove ou dez anos, diversas mudanças ocorrem no organismo e no comportamento dos pré-adolescentes. O atraso nos horários de dormir e de acordar é uma delas, revelando alteração na organização temporal interna, estimulada, é claro, pelas facilidades urbanas, como tevê e computador, entre outras.
Muitos pais se queixam do trabalho que têm para acordar a garotada de manhã. Eles vão para o colégio sonolentos porque não dormiram o tempo suficiente, já que na véspera deitaram muito tarde. Apesar do tempo necessário de sono variar de pessoa para pessoa, a média estimada para adolescentes fica entre 8 a 9,25 horas diárias.
"Dormir menos do que o organismo necessita traz prejuízos sociais e acadêmicos. A privação do sono afeta o humor e o comportamento, causando irritabilidade e baixa tolerância à frustração e ainda tende a aumentar a impulsividade e a sensação de tristeza, contribuindo para conflitos que se refletem na autoestima. "
Pelo lado acadêmico, os prejuízos também são grandes. A sensação de fadiga afeta a motivação principalmente para atividades abstratas, complexas e de duração mais longa; diminui a persistência para levar a cabo as obrigações; provoca mudanças na atenção e no desempenho; prejudica especialmente as tarefas que exigem criatividade e memória.
Por que não dormir mais cedo?
Dormir mais cedo é mais que uma simples questão de limite, disciplina e mudança de hábito, é também, ou principalmente, como sugerem os cientistas, um desafio ao sistema de temporização dos jovens. O ideal mesmo seria que eles entrassem mais tarde no colégio, para não ficar na contramão da ritimicidade biológica que interfere nessa fase.
No entanto, um argumento usado por professores, pais e até pelos próprios estudantes a favor do horário matutino é de que este rende mais, pois à tarde sobra mais tempo para fazer outras coisas. É verdade, pois os alunos que estudam à tarde acordam, em média, duas horas mais tarde do que os que estudam pela manhã. Mas, em consequência, dizem os autores, os alunos do turno matutino que tiveram seu sono reduzido nos dias letivos compensam com a extensão do sono nos fins de semana. “O sono é, assim, transformado em uma sanfona, comprimido durante os dias de aula e expandido nos finais de semana. Essa irregularidade dos horários de sono é um dos fatores que aumenta a sonolência diurna observada nos alunos”.
Portanto, concluem os pesquisadores, para alunos do tipo vespertino, os chamados grandes dormidores, as aulas no turno vespertino seriam mais produtivas, mesmo que causem a sensação de que o dia ficou mais curto.
"Mas, para as escolas matutinas e seus professores, os autores também deixam algumas dicas: as primeiras aulas da manhã devem ser mais estimuladoras e desafiantes, de preferência ao ar livre, onde a luminosidade é maior. A exposição à luz sinaliza ao sistema de temporização que o ritmo biológico deve ser adiantado. "
A dobradinha, prática de um professor dar duas aulas seguidas numa mesma turma, deve ser evitada devido à existência de ciclos internos de vigília (o mesmo acontece com o sono). A cada 90 minutos, durante a vigília, temos um ciclo completo com um pico e um vale de atenção. A flutuação da atenção mantém valores mais altos quando as aulas são mais curtas, com troca de professores, mudança de espaço ou quando oferecem pequenos intervalos. Afinal, quem não quer alunos mais atentos e produtivos em sala de aula?
Para saber mais
“O sono na sala de aula: tempo escolar e tempo biológico”
Fernando Louzada e Luiz Menna-Barreto – Ed. Vieira e Lent
Grupo Multidisciplinar de Ritmos Biológicos (GMDRB)
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