Quem já empinou pipa sabe que o segredo para o sucesso da brincadeira está em aproveitar a força e a direção do vento para fazê-la subir e, depois, quando já empinada, sabe tensionar a linha, pois, quando muito esticada, rompe-se, fazendo com que a pipa se perca pelos ares, ou, ao contrário, quando muito frouxa, leva a pipa a rodopiar nas alturas e cair.
Temos o conhecimento de que o jovem adolescente, objetivando a autonomia adulta, vez por outra não apresenta ferramentas que lhe permitam um posicionamento autônomo. Afinal, a adolescência é um tempo de construção de autonomia, e não uma época de um comportamento autônomo.
Por esse motivo, recorro à representação da pipa. Ao “dar linha”, lançamos nossos adolescentes para as escolhas que já são capazes de fazer. Não podemos cercá-los, pois corremos o risco de formar adultos irresponsáveis.
Todavia, não podemos confundir autonomia com irresponsabilidade. Os novos jovens precisam ser responsabilizados pelas suas ações. Se ser autônomo é “ser dono do próprio nariz”, também significa saber cuidar dele, ser responsável por ele. O saber cuidar só se consolida quando ocorre um exercício de responsabilidade pelas escolhas realizadas e pelas conseqüências que delas possam advir.
Por outro lado, os pais não podem se esquecer de que, se tensão demais arrebenta a linha da pipa, tensão de menos faz com que ela perca a estabilidade e o sentido.
Deixar o adolescente solto, sem limite, ou orientação, é uma omissão do papel educativo que deve ser exercido pelos pais. Há momentos em que, pressionados pela mídia e pelos pares, os adolescentes sentem-se oprimidos e incapazes de reações de enfrentamento a determinadas pressões. É hora de puxar e enrolar a linha para reconduzi-los a uma postura de equilíbrio.
Pais e mães comprometidos com a educação dos seus não devem ter medo de dizer não. Devemos esclarecer que pais não “coleguinhas” e que, algumas vezes, mesmo correndo o risco de sermos tomados como antipáticos, temos a responsabilidade de impor alguns limites.
Pai e mãe, então, têm a árdua tarefa de “puxar” e “soltar” o filho, como possivelmente fizeram com a pipa, quando crianças, até que ele seja capaz de fazer as próprias escolhas e responsabilizar-se por elas.
Diretora pedagógica do Ético Sistema de Ensino e ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto.
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