quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Relação professor-aluno: uma parceria sem limite

Parte I
           Quando falamos em "parceria", temos que ter bem clara a sua definição: pessoas reunidas para um fim de interesse comum. Na educação, o interesse comum entre professor e aluno é obter sucesso no processo de ensino e aprendizagem. E só podemos conseguir isso se entendemos que a escola não pode ser um mundo à parte, como era no período da Idade Média, quando a atividade de ensinar (normalmente redigida por religiosos) era desenvolvida em espaços específicos, cuidadosamente isolados do mundo dos adultos e sem qualquer relação com o dia-a-dia.
            Tendo-se consciência de que a escola deve ser vista como o espaço em que se desenvolvem as relações humanas, é muito importante que o professor conheça o contexto social, psicológico e cognitivo dos alunos. Só assim ele poderá mediar situações de aprendizagem com planejamento e estratégias de ensino eficientes, além de trabalhar conceitos, valores, linguagens e atitudes.
            Nesse cenário, um dos aspectos importantíssimos que podemos destacar é a linguagem. Que papel ela tem?
            Parece, a princípio, muito óbvio, pois sabemos que a construção do conhecimento se processa essencialmente por meio da linguagem, que se apresenta das mais diversas formas: artística, científica, gráfica, religiosa, de senso comum, etc.

            A função fundamental da linguagem é ligar contextos, isto é, o do professor e o do aluno. O que queremos dizer é que quando o aluno chega à aula para aprender algo novo, traz consigo um mundo de experiências vividas, que lhe permitirá construir muitas relações, e também uma linguagem própria de comunicação com os outros e consigo mesmo. É o contexto do aluno, sobre o qual serão ancorados os novos conhecimentos a serem construídos.
            O professor que chega à aula para ensinar [e aprender] também viveu um mundo de experiências, apropriou-se de conhecimentos e estabeleceu relações significativas num domínio específico do conhecimento humano. Sua linguagem ou sua forma de comunicação com os alunos terá sentido dentro do seu contexto: o contexto do professor.
            Na interação professor-aluno, os dois contextos serão ligados pela linguagem, isto é, pelo conjunto de símbolos (visuais, escritos e sonoros) que terão que adquirir significados comuns para que a comunicação se efetue dentro de sua finalidade: a construção do conhecimento.
            Sendo assim, uma das competências que merece significativa atenção para o seu estímulo é a capacidade de compreensão.
            Para qualquer aluno que não desenvolva essa competência, a leitura é inútil. Só se constrói conhecimento se houver compreensão. O professor em sala de aula deve ser um artífice da compreensão, um transformador de informações em conhecimentos.
            Muitos professores se queixam que os alunos não sabem ler, pois não compreendem o que lêem. É hora de pensarmos se isso não é conseqüência da má formulação de questões propostas. Vamos para um exemplo:
            Numa prova de Língua Portuguesa, havia uma questão em cujo início a professora contextualizou escrevendo:
            Na semana passada, os alunos fizeram um passeio a um parque de diversão.
            Separe as sílabas das palavras para saber em quais brinquedos eles andaram:
a) casebre=
b) fábrica=
c) lápis=
d) caderneta=
            Podemos nos perguntar: De que brinquedos estamos falando? Qual a relação do contexto inicial com a ação de separar as sílabas? De que modo essa ação definiria os brinquedos? Não há como saber. Os alunos podem até acertar a separação de sílabas, mas não terão a mínima idéia do que o contexto quis dizer. Será que os alunos não sabem ler porque não entendem o que lêem ou será que não entendem porque o que escrevemos tem sentido em nosso contexto e não no contexto deles? Como a linguagem é importante no processo de ensino e da aprendizagem!
Dominar a arte de perguntar é, talvez, uma das competências mais importantes do professor. Uma razão parece fundamental: uma boa pergunta possibilita uma boa resposta.
            Normalmente, o professor faz perguntas e pressupõe que o aluno responderá dentro do contexto que ele, professor, está falando. E é claro que nem sempre isso acontece.
            Nessa comunicação, devemos lembrar o princípio básico da linguagem: quem dá sentido ao texto é o contexto. Dessa forma, possibilita-se ao aluno que ele receba a informação, aproprie-se dela, integrando-a com sentido em sua estrutura cognitiva e aplique-a em outras situações.
            Saber perguntar e saber ouvir as respostas são ações importantes no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, as perguntas, mesmo tecnicamente bem estruturadas, podem estar fora do contexto cognitivo desenvolvido pelo aluno, fazendo com que ele não possa responder significativamente. E isso nos leva a concluir que o professor deve sempre atuar na zona proximal de desenvolvimento (assim chamada por Vigotsky), ou seja, naquela que separa o aluno de um desenvolvimento potencial, que está próxima, e, por isso, é acessível de alcance se tiver a orientação de um adulto ou em colaboração de um companheiro mais capaz.
            O professor precisa ter a sensibilidade e a competência para perceber se os alunos apresentam potencial para aprender significativamente as questões propostas, ou se eles estão apenas decorando mecanicamente as informações.
            Mas será que, no processo ensino e aprendizagem, o par mais capaz sempre é o professor? Numa linha behaviorista sim, pois ele é o transmissor de informações, sem preocupação de transformá-las em conhecimento. O aluno é sujeito passivo, não ativo. No entanto, numa linha sociointeracionista, o professor nem sempre é o par mais capaz. Esse papel é dividido com o aluno ou outro par igualmente capaz. E isso por quê? Voltamos à questão da linguagem, do contexto. Nem sempre o contexto de um é o contexto do outro.
            A relação professor-aluno deve estar amplamente ancorada na afetividade.
Paulo Freire dizia que "o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar . Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas." (FREIRE, 1996, p.96)

Parte II

                     A escola hoje, mais do que em qualquer outro tempo, é um espaço onde se constroem relações humanas. Por isso, é de fundamental importância trabalhar não só conteúdos, mas também as relações afetivas. Será que podemos ensinar nossos alunos a tratar o outro? A fazer amigos? Exigir do outro o respeito? É evidente que a resposta a essas perguntas é positiva. É imperioso que os professores combinem projetos que dêem a seus alunos mais que seu saber, a riqueza insubstituível de sua amizade.
           E como é que conseguimos isso? Através do diálogo. Os alunos não podem levar à escola apenas seus ouvidos e suas mãos. Eles devem levar, efetivamente, sua boca e seu cérebro.
            A aula, portanto, não pode ser um monólogo em que só o professor fala. Este também tem que ouvir, e muito. Deve dar atenção aos alunos e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem também para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades.
            A mensagem que deixamos é: Amem seus alunos, façam por eles não o possível, por que isso eles mesmos podem fazer. Façam o impossível. Dêem a eles a oportunidade de se autoconhecerem e, através da criatividade, dos desafios, perceberem com clareza aonde podem chegar.

                                         Dulce Regina Vieira Vara - Coordenadora Pedagógica

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