Pais surpresos diante das primeiras “queixas” da escola, se perguntam o que acontece com seus filhos: preguiça? Alguma deficiência não percebida? Falta de inteligência? O que mais pode ser?
Hoje, o conceito de Dificuldade de Aprendizagem (DA) está relacionado à discrepância entre o potencial estimado do aluno e a sua performance escolar. DA não significa deficiência mental, como se pensava no passado. Estes alunos comumente apresentam inteligência média ou até mesmo acima da média.
Segundo a psicopedagoga Solange Vicente, crianças e adolescentes com DA podem apresentar dificuldades na resolução de algumas tarefas escolares e serem brilhantes em outras. As dificuldades também não se restringem a disciplinas específicas.
Geralmente, quando a escola sinaliza algum problema, os pais aflitos buscam ajuda para seus filhos. Escola e família tentam identificar causas e às vezes precipitam conclusões que acabam estigmatizando a criança que percebe estar além das expectativas.
As observações de casa e dos professores são importantes, mas não devem ser definitivas, lembra Solange. Depois de se certificar que não há problemas visuais e auditivos interferindo, a avaliação de especialistas como neurologista, fonoaudiólogo e psicopedagogo podem desvendar algumas dificuldades e ajudar tanto aos filhos quanto aos pais e professores a lidar e a superar a situação.
Diagnósticos como dislexia (transtorno de leitura, caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas), disgrafia (uma combinação de dificuldades na capacidade de compor textos escritos, evidenciada por erros de gramática e pontuação dentro das frases, má organização dos parágrafos e outros prejuízos na expressão escrita) e discalculia (transtorno da matemática, caracterizada pela dificuldade da criança associar habilidades matemáticas básicas que domina com o mundo que a cerca) quando acompanhados adequadamente por especialistas podem ajudar a criança a se aceitar e a trabalhar a dificuldade, evitando comportamentos negativos.
Algumas escolas recebem estes diagnósticos como se fossem doenças terríveis assustando a criança e a família quando, na verdade, é a partir da identificação do problema que a criança terá oportunidade de desenvolver as habilidades necessárias para superar as deficiências e ter uma vida escolar feliz.
Mas nem sempre o baixo rendimento escolar está diretamente ligado às DA. Pode ter outras causas ou mesmo ser uma resposta à proposta da escola. “Muitas vezes as classificações como hiperatividade, fobia escolar e dificuldade de aprendizagem apenas encobrem incompetências pedagógicas, ou seja, métodos ineficazes, metodologias inadequadas, estratégias incoerentes. Como resultado, o aluno fica desmotivado, sem interesse, com preguiça”, lembra a psicopedagoga. E cita casos de alunos com baixo rendimento em matemática e excelentes quando em trabalhos que exigem muito da lógica matemática na sala de informática.
Um outro cuidado que precisa se ter é com a rotina dos filhos. É muito comum crianças com agendas cheias de compromissos (curso de línguas, esportes, computador e etc) sem folga para simplesmente brincar. Há ainda, aquelas sem limites em sua rotina, que ficam até tarde com jogos na Internet, ou mesmo na TV, prejudicando as horas de sono. Certamente, tudo isso, acaba por refletir na escola. O aluno apresenta-se sonolento, cansado, sem interesse, podendo seu baixo resultado ser interpretado erradamente.
É preciso ainda considerar o ambiente familiar. Há casos em que crianças assistem a brigas entre os pais, ou ainda, são utilizadas como objeto de disputa na separação do casal e, até mesmo, casos de abuso sexual. Tudo isso, é projetado na escola através de diversas formas de comportamento, como agressividade ou passividade, baixo rendimento etc.
O ambiente escolar pode, também, ser gerador de comportamentos prejudiciais ao desenvolvimento da criança, como por exemplo, os chamados bullyings - “gozação” ou apelido (sempre depreciativo), exclusão do grupo, isolamento, humilhações por parte dos colegas e até de professores.
Enfim, razões externas podem prejudicar os resultados escolares e confundir diagnósticos. Aquilo, por exemplo, que é entendido como DA pode se modificar com a mudança de rotina, de colégio ou da dinâmica familiar, cessando a causa da perturbação.
Mas nem sempre se encontra uma resposta objetiva após a avaliação de uma equipe de profissionais. É quando aprendemos que a natureza humana tem suas idiossincrasias e precisamos lidar com elas. Não fazemos assim para aperfeiçoar nosso temperamento?
Os pais devem buscar a escola adequada ao ritmo e características da criança para ela não se sentir pressionada por um modelo que a estigmatize e dificulte o desenvolvimento de suas várias habilidades.
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