Andréia Schmidt
Existe coisa mais chata que entrar em uma festa e ver alguém com uma roupa igualzinha à que a gente está usando? Talvez pior ainda seja chegar em um lugar e estar vestido de forma completamente diferente das outras pessoas... A situação descrita pode até parecer uma contradição, mas é mais ou menos assim que a gente se sente quando é adolescente: é preciso parecer diferente dos outros, mas não muito. É por isso que, passeando no shopping, por exemplo, quando a gente vê um grupo de adolescentes, em geral, eles estão vestidos de forma muito parecida, falam as mesmas gírias, gostam mais ou menos das mesmas músicas e costumam frequentar os mesmos lugares. É típico da adolescência: o grupo de amigos é tão unido que partilha gostos, e fazer parte desse grupo é tão bom que muitos garotos e garotas até renunciam a algumas preferências em nome dessa amizade. Até aí, tudo bem. Não há nada de errado em fazer pequenas concessões aos amigos em nome do prazer de compartilhar de sua companhia. O difícil é ter de renunciar a uma porção de coisas importantes apenas para se sentir aceito, querido ou membro de uma turma. Nesses casos, as chances de surgirem problemas são grandes. É comum uma menina telefonar para as amigas antes de uma festa para saber com que roupa elas vão. É uma forma de evitar possíveis constrangimentos. No entanto, prestar atenção no que as amigas vestem e sair caçando modelos iguais pelas lojas da cidade é uma atitude que mostra uma dificuldade em tomar decisões baseadas nos próprios gostos e preferências. A garota que age desse jeito parece se sentir muito insegura sobre sua aceitação pelo seu grupo caso decida sozinha o que vestir. Ou, então, admira tanto as amigas a ponto de querer ser como elas nos mínimos detalhes. Esse exemplo se refere a algo simples, mas há situações em que, na tentativa de se comportar exatamente como os outros, a pessoa acaba sendo chamada de maria-vai-com-as-outras. Quem não conhece alguém que só repete aquilo que ouviu os amigos falarem, muda de opinião só para atender às expectativas do grupo ou defende com unhas e dentes posições tomadas pelos colegas ainda que, lá no fundo, discorde delas? Essas pessoas não se comportam assim com más intenções. Elas não querem “roubar” as ideias dos amigos ou concordar com tudo que é dito pelo grupo por não terem opinião própria. No fundo, elas têm muito medo do que pode acontecer se elas não agirem como os outros. Para elas, é muito difícil defender um ponto de vista ou contrariar as pessoas de quem gostam. Em alguns casos, esse medo tem a ver com a possibilidade de perder o afeto dos amigos; em outros, o que está em jogo é a insegurança sobre os próprios valores (“Será que o que eu gosto é bom mesmo ou estou por fora?”). Lutar por aquilo que se acredita requer um aprendizado longo, que começa na infância e nem sempre é fácil para todo mundo. Essa, talvez, seja a principal dificuldade da pessoa chamada de maria-vai-com-as-outras. No entanto, superá-la é muito importante. Fazer conquistas, realizar sonhos e transpor obstáculos requer que a pessoa se sinta segura do que quer e pronta para defender suas crenças e valores. Essa aprendizagem pode começar nas pequenas coisas, como na decisão do que fazer no sábado à noite, mesmo que os amigos discordem do programa sugerido, e deve se estender para outros campos, como a definição do que quer e do que não quer para seu futuro e do que gosta e do que não gosta. Só assim, a pessoa poderá desenvolver seu senso crítico e sua capacidade de fazer escolhas conscientes, aceitando o que considera bom para si e rejeitando o que não lhe convém. Isso se chama autonomia. E, por falar nisso, como anda sua autonomia?
Fonte: Texto recebido por e-mail
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