sexta-feira, 8 de julho de 2011

Disciplina - uma questão de respeito

Paula Dely 

         Uma das maiores dificuldades relatadas por pais e professores refere-se a como manter a disciplina em casa e na sala de aula. Antes de qualquer apontamento nesse sentido, é interessante compreender o que significa essa palavrinha que sempre está presente nos discursos de conteúdo educativo. Segundo o Dicionário Aurélio, disciplina significa ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização. Essa definição nos traz de imediato algumas conclusões importantes acerca do ser humano.
         Primeiramente, o homem necessita de um conjunto de regras para fazer funcionar adequadamente um ambiente composto de outros seres humanos. Se esse conjunto de regras precisa ser desenvolvido, significa que não o aprendemos ao nascer e que precisamos incorporá-lo no decorrer de nosso amadurecimento. Mas como isso acontece na prática?
         Como pais e educadores, podemos observar facilmente que uma criança pequena ainda não é capaz de desenvolver sozinha as noções de espaço, tempo, perigo e outras funções essenciais para sua segurança e a dos outros. É por isso que devemos estar sempre atentos aos comportamentos de nossas crianças, sob o risco de esses pequenos acabarem por colocar sua integridade em jogo.
         Conforme as crianças crescem, compreendem que determinados comportamentos não são permitidos e, observando os adultos, aprendem também os comportamentos considerados adequados, que lhes garantem reconhecimento e afeto.
         Como sua estrutura cognitiva ainda não possui a habilidade de transpor a dimensão do concreto, a criança necessita comprovar na realidade o resultado de seus atos. Esse processo de observação e repetição é a base da aprendizagem. É assim que a criança percebe que, para cada atitude, existe uma conseqüência e que seus comportamentos são capazes de gerar resultados positivos e negativos. Dessa forma, ela internaliza não somente as regras necessárias ao bom funcionamento do ambiente onde vive como também favorece a organização interna dela.
         Na adolescência, esse processo se torna mais complexo, uma vez que o jovem carrega dentro de si o conjunto de valores que incorporou durante seu amadurecimento e a estes se juntam os conflitos típicos dessa fase do desenvolvimento. Ao mesmo tempo em que o adolescente quer testar na realidade os valores aprendidos, ele necessita refutá-los e questioná-los para se tornar diferente de seus pais, ou seja, para possuir uma identidade. De um lado, reivindica liberdade ao questionar as regras e as imposições de pais e professores e, de outro, teme a total independência por saber que ainda não tem maturidade suficiente para estar sozinho no mundo.
         É nesse momento que o jovem demonstra, por meio de uma série de comportamentos contraditórios, sua necessidade de limites e de disciplina. Ao estabelecermos as regras necessárias à convivência de forma firme e coerente, estamos auxiliando o adolescente a confiar nos valores aprendidos, contribuindo para sua organização interna. Conhecendo os limites de seu corpo e de seus comportamentos, ele se torna capaz de construir a noção de sua identidade e de seu lugar no mundo.
         Nesse processo, nosso papel enquanto pais e educadores é ajudá-lo a construir a imagem de si e do mundo para poder ingressar na fase adulta com segurança e confiança. Sem limites e disciplina, esse processo pode acabar sendo comprometido, deixando os jovens confusos, perdidos e desprovidos de referência.
         Por isso, acredito que a disciplina é uma questão de respeito, isto é, consideração por nossas crianças e adolescentes, que dependem de que nós, adultos, indiquemos o rumo que devem seguir, fazendo com que desenvolvam a consciência de seus papéis, responsabilidades e encargos na construção de nossa sociedade.

Paula Dely  - CRP 08/08505
Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, foi coordenadora do Setor de Psicologia da Vara da Infância e da Juventude de Curitiba. Atualmente, realiza trabalho clínico com adolescentes e adultos e presta assessoria para projetos sociais voltados a jovens e suas famílias.

Fonte: Educacional

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