"Uma verdadeira viagem de descobrimento não é encontrar novas terras, mas ter um olhar novo".
Marcel Proust
Um olhar novo para o processo de aprender "o aluno que aprende -, para o processo de ensinar " o professor que ensina - e para o contexto cultural autorizado a produzir conhecimento: a escola.
Foi diante desta complexidade que partimos para a busca de novos caminhos, que promovessem uma aprendizagem mais significativa. Participamos de cursos de atualização, de grupos de estudo. Recorremos a teorias que nos dessem subsídios para analisarmos a prática pedagógica, as variáveis que interferiam na aprendizagem (conteúdo, formas de agrupamento das crianças, características das disciplinas, contextos culturais), enfim, procurávamos redefinir a escola a partir de sua dimensão social.
Ao nos debruçarmos sobre a prática vigente, validamos muitos fazeres que no momento davam certo, pois se justificavam pela maneira como eram processados os conhecimentos ? através de aproximações sucessivas, por reformulações cognitivas; consideravam a forma como o aluno pensava, aprendia e utilizava seus saberes anteriores. Eram situações que procuravam desenvolver o raciocínio, a busca de informações e de soluções de problema. Então, o que nos inquietava ainda?
Inquietava-nos a constatação de que a criança chegava à escola com um rico repertório de saberes acerca de várias questões em todas as áreas do conhecimento, principalmente das que diziam respeito à aquisição da leitura e escrita e limitávamos a desenvolver práticas que privilegiavam saberes produzidos na escola e para ela. Não podíamos continuar pautando nosso trabalho desvinculado de um contexto social mais abrangente.
Sentimos a necessidade de proceder a uma revisão de nossas idéias sobre o processo de alfabetização, tentando reformular a prática a partir de muita reflexão no que se refere à atuação do professor, aos encaminhamentos didáticos e ao material a ser disponibilizado à criança, bem como a mudança do referencial teórico.
Não podíamos mais reduzir a aprendizagem da leitura e da escrita ao ensino de um conjunto de técnicas percepto-motoras e de decifração. Não podíamos mais utilizar apenas um portador de texto que circulava na sala de aula, a cartilha, cujo objetivo era decifrar frases, palavras, sílabas e letras.
Restrita ao ambiente escolar, a alfabetização se constituía em um conteúdo destituído de propostas sociais, esquecendo que as crianças estavam inseridas num mundo letrado.
Após muita reflexão e busca, encontramos respostas para nossas indagações: a psicogênese da língua escrita, ou seja, o resultado de um estudo sobre o caminho de construção que a criança faz para entender a língua escrita e sua organização. Reformula-se, também, o conceito de sujeito alfabetizado ? aquele capaz de atuar com êxito nas mais diversas situações de uso da linguagem; é preciso conhecer a diversidade de textos que circulam socialmente, suas funções e também os procedimentos adequados para interpretá-los e produzí-los.
O nosso objetivo, ao substituir a cartilha por textos, é que nossos alunos, participando de situações reais de comunicação, se transformem em leitores autônomos e críticos, capazes de desfrutar da leitura e de buscar conhecimento, utilizando a variedade de textos que circulam na sociedade, expressando suas preferências como leitor.
Visamos, também, formar competentes escritores de textos, capazes de valorizar a escrita como forma de comunicação social, de expressão pessoal e como meio de organização de suas idéias, produzindo textos completos e variados, adequados às circunstâncias.
Mais do que isso: "precisamos reconhecer a dimensão da aprendizagem como criação de sentidos, como alegria de pensar, como paixão de aprender."
Vera Lúcia Corrêa Zinsly é coordenadora pedagógica
Nenhum comentário:
Postar um comentário