quarta-feira, 27 de julho de 2011

A difícil arte de equilibrar afeto e limites

Nós, pais, vivemos atualmente alguns dilemas angustiantes: 1) oferecemos aos nossos filhos um caminho por demais florido, plano e pavimentado, mas temos certeza de que mais tarde irão percorrer trilhas e escarpas pedregosas; 2) protegemos nossas crianças e adolescentes das pequenas frustrações, mas bem sabemos que a vida, mais tarde, fatalmente se encarregará das grandes; 3) tudo fazemos para não privar nossos filhos de conforto, bens materiais, shoppings, lazer, etc., mas agindo dessa maneira não estamos criando uma geração por demais hedonista e alheia aos problemas sociais?
Para esses paradoxos, não há “Manual de Instruções”. Mas, se houvesse, duas palavras comporiam o título deste manual: AFETO e LIMITES. São pratos distintos de uma balança em que há de prevalecer o equilíbrio, a medida certa e o bom senso.
Mais do que no passado, o jovem de hoje, ao percorrer o seu caminho, encontra muitas bifurcações, tendo, com freqüência, de decidir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado.
Em cada etapa da vida, é bom que o nosso educando cometa pequenos erros e seja responsabilizado por eles. Além disso, é preciso que tenha clareza das nefastas conseqüências dos grandes ou irreversíveis erros, para que possa evitá-los. Por exemplo: gravidez indesejada e DST; exposição excessiva ao risco; envolvimento com drogas, álcool, tabaco, brigas violentas, furtos, etc.
O doutor Dráuzio Varella, com a autoridade de quem conviveu com as mais profundas metamorfoses do ser humano como médico no presídio Carandiru, cita os dois principais fatores que levam o indivíduo aos descaminhos da marginalidade: negligência afetiva e ausência de limites.
A nossa relação com o educando – seja filho ou aluno – não pode ser tíbia, leniente, permissiva, mas sim intensa e proativa, sobretudo na imposição de disciplina, respeito às normas e à hierarquia. Até porque quem bem ama impõe privações e limites. E sem disciplina não há aprendizagem na escola e, muito menos, na vida.
“A estrutura básica do ser humano não é a razão e sim, o afeto”, ensina apropriadamente Leonardo Boff, autor de 72 livros e renomado intelectual brasileiro. Realmente, quanto mais tecnológico se torna o mundo hodierno, maiores são as demandas por valores humanos e afetivos.
Recente pesquisa patrocinada pelo UNICEF mostra que, para 93% dos jovens brasileiros, a família e a escola são as instituições mais importantes da sociedade. Crianças e adolescentes que têm, em casa e no colégio, limites e modelos de afeto raramente se envolvem com drogas ou violência, pois se nutrem de relacionamentos estáveis e sadios.
Num crescendo, a criança e o adolescente devem adquirir o direito de fazer escolhas, aprendendo a auto-administrar-se. “Sem liberdade, o ser humano não se educa. Sem autoridade, não se educa para a liberdade” – pondera o educador suíço Jean Piaget (1896-1980). Autoridade e liberdade, exercidas com equilíbrio, são manifestações de afeto, ensejam segurança e proteção para a vida adulta. “Autoridade é fundamental, a superproteção e a permissividade impedem que os jovens amadureçam” – completa a professora da UFRJ Tânia Zagury.
Devemos dar aos nossos filhos “raízes e asas” (valores e liberdade). E nós, pais, educamos pouco pelos cromossomos e muito pelo “como-somos” (os exemplos que damos). Sai sempre ganhando quem sabe amar, dialogar, tolerar e também quem sabe ser firme e coerente em suas atitudes.

Jacir J. Venturi, professor da UFPR por 25 anos e da PUC-PR por 11 anos. Cidadão Honorário de Curitiba. Autor dos livros Álgebra Vetorial e Geometria Analítica (8.ª edição) e Cônicas e Quádricas (5.ª edição). 

Site: www.geometriaanalitica.com.br

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