Em uma sociedade cujo substrato é a estética, a figura do vencedor e que valoriza a aquisição de bens, ser diferente é comprar uma passagem para o sofrimento. Nunca, em nenhum outro tempo, o jovem foi tão pressionado para a busca incessante da perfeição; mas independentemente das questões estéticas, um problema maior e mais abrangente se propaga: a obesidade infantil.
A obesidade é um distúrbio que pode se tornar o principal problema do século 21 e a primeira causa de doenças crônicas do mundo, pois ela induz à várias anormalidades do metabolismo que contribuem para as doenças cardiovasculares, do colesterol, diabetes mellitus e outras.
Assim como no adulto, essa realidade está acometendo cada vez mais crianças e adolescentes, que no Brasil cresceu 240% nos últimos 20 anos. São cerca de 6,7 milhões de crianças e adolescentes obesos no País, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
Inclusive a incidência de obesidade mórbida está levando jovens à mesa de cirurgia em uma tentativa radical de emagrecer e regredir as complicações.
Ainda não se conhece claramente a etiologia do excesso de peso, mas sabe-se que estão envolvidos múltiplos fatores complexos que alteram o balanço energético.
Estes fatores podem ser classificados em genéticos, metabólicos, nutricionais e psicossociais. Eles parecem interagir, levando a um balanço calórico positivo e predispondo o excesso de peso.
O fator de risco mais importante para o aparecimento da obesidade na criança é a presença de obesidade em seus pais, pela soma da influência genética e do ambiente.
As crianças com os dois pais obesos têm 80% de chance de se tornarem obesas e se apenas um dos pais for obeso, ele terá 40% de chance.
Estudos comparando o peso corporal relativo de crianças adotadas com os pais adotivos e biológicos sugerem um maior componente genético na incidência da obesidade. O peso corpóreo durante a adolescência é um forte previsor do peso quando atingir a idade adulta.
A obesidade tende a persistir na vida adulta. Cerca de 50% de crianças obesas aos seis meses de idade e 80% das crianças obesas aos 5 anos de idade permanecerão obesas quando adultas.
A obesidade é mais prevalente nas raças hispânicas, afro-americanas e particularmente em meninas. A criança não precisa necessariamente ingerir grandes quantidades de comida para ganhar peso, muitos alimentos que elas gostam contêm alto valor calórico.
As condições de vida que levam à obesidade nas sociedades desenvolvidas estão atuando também nos países em desenvolvimento como o Brasil, aumentando sua prevalência especialmente nas regiões mais ricas, como as regiões sul e sudeste.
Um estudo chamado, NHANES-II (1976-1980) National Health and Nutrition Examination Survey, indica que nos EUA 20% dos meninos e 22% das meninas com idade de 12 a 19 anos estão com sobrepeso.
Dados de pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostraram que a prevalência de sobrepeso em adolescentes variou entre 1,7% no nordeste, 4,2% no sudeste. A prevalência de obesidade em adolescentes variou de 6,6% e 8,4% nas regiões nordeste e sudeste.
No Brasil a taxa geral de sobrepeso é de 7,6 % e só em São Paulo é de 14,7 %. De acordo com Wang et col, na revista American Journal of Clinical Nutrition, o índice de aumento anual de obesidade em indivíduos de 6 a 18 anos nos EUA é de 0,6%, no Brasil é de 0,5 % e na China é de 0,2 %.
A evolução da engenharia de alimentos também dificulta a manutenção de dietas saudáveis; as crianças e adolescentes sofrem muita influência deste mercado que, com o seu delicioso sabor e belas embalagens associadas ao grande marketing, fazem com que sejam esses produtos se tornem irresistíveis.
Uma reportagem publicada em agosto de 2004 pela revista Veja, mostrou que nos EUA neste ano, o diretor Morgan Spurlock, inspirado naquele episódio em que duas garotas americanas processaram a rede de lanchonetes McDonald´s por torná-las obesas, fez uma experiência com ele mesmo chamada “Super Size Me”, onde determinou que tudo que ele ingerisse por um mês deveria vir do McDonald´s.
Cada item do cardápio teria de ser provado pelo menos uma vez e ele teria que aceitar todas as vezes que um atendente oferecesse o lanche na porção super size (onde o número de calorias sobe assustadoramente). Além disso, ele reduziu de forma drástica sua atividade física até chegar à média nacional. Ao final do mês, estava com 11 quilos a mais, seu colesterol disparou, teve depósito de gordura no fígado como de um alcoólatra, dores de cabeça, mau humor e exaustão, imaginem isso tudo como conseqüência em uma criança!
Como publicado na Harvad Magazine, uma criança que come em casa ingere, em média, 130 calorias a menos por refeição do que nos dias em que almoça num restaurante fast-food.
Dois estudos publicados recentemente sugerem que os adolescentes obesos sejam emocionalmente problemáticos. No século XVII, o excesso de gordura era considerado sensualidade na Europa, e hoje o padrão de beleza é a magreza, o que exerce grande pressão nos jovens para manterem-se dentro dos padrões.
Um dos estudos realizados pela da Universidade de Minnesota, envolvendo cinco mil adolescentes mostra que os jovens com excesso de peso são mais propensos a sofrerem de depressão e de outros problemas vinculados à condição física.
O estudou determinou ainda que 26% dos adolescentes obesos alvos de gozação na escola e em casa consideraram o suicídio, enquanto que 9% já tentaram.
Um outro estudo realizado pela Universidade de Medicina e Odontologia de Nova Jersey e feito entre 17 mil adolescentes, com idades entre 13 e 18 anos, diz que os jovens obesos têm menos amigos que os demais adolescentes de mesma idade.
A explicação para isso estaria no isolamento social que os adolescentes obesos sentem quando comparados aos magros. Muitos adolescentes obesos possuem uma auto-imagem desfavorável e tornam-se progressivamente mais sedentários.
Existe inclusive a teoria de que levar desaforo para casa, fazer concessões além da conta e acumular raiva são atitudes que levam à obesidade. Para comprovar essa teoria, estudiosos da Universidade do Texas realizaram uma pesquisa recente com adolescentes entre 14 e 17 anos e constataram que atitudes como aceitar desaforos, por exemplo, contribuem para a obesidade.
Os sentimentos de impotência provocam raiva, que nos leva a comer, que por sua vez engorda e engordar provoca sentimentos de culpa. Então uma atitude mais assertiva diante das situações cotidianas, poderia ajudar a lidar melhor com a raiva e amenizar os efeitos que ela traz. Isso significa aprender a dizer não, e expor a opinião, independentemente do que os outros pensem.
O posicionamento assertivo oferece novas formas de expressão de sentimentos, que outrora iam para a comida. As atitudes 8 ou 80 são mais fáceis: ou engole a raiva ou explode; o ideal é se habituar a encontrar uma manifestação adequada entre as diversas possibilidades de expressão que existem entre 8 e 80.
Freqüentemente os pais não sabem como ajudar. Não existem muitas opções terapêuticas disponíveis para os adolescentes obesos. Há poucos programas elaborados especialmente para adolescentes, poucos profissionais experientes nesse tipo tratamento, e o uso de medicamentos ainda é muito limitado.
Aqui estão algumas dicas para orientar seus filhos:
1) Alguns pais não se conscientizam de si mesmos e de sua situação de peso e não conseguem analisar o do filho. Observe o seu comportamento e o de seu filho em relação à alimentação;
2) Fixe os horários das refeições, pois a prática ensina disciplina às crianças e evita o consumo de lanches e guloseimas fora de hora: Já dissemos que o ideal são 6 refeições diárias e evitar as beliscadas fora desses horários;
3) Não imponha dietas restritivas, principalmente nas crianças menores. Em fase de crescimento, o caminho é a reeducação alimentar: comer de tudo um pouco (alimentos saudáveis) e em quantidades adequadas;
4) Ignore o velho hábito de fazer o filho raspar o prato. Isso costuma provocar a perda da saciedade na criança, ou seja, ela deixa de ter o próprio limite de saturação;
5) Evitar muitas brincadeiras na mesa: hora de comer é hora de seriedade, evitar fazer aviãozinho. Muito mimo é sinônimo de muita manha;
6) Não ceder ao primeiro “não gosto disso”: a criança tem uma tendência a dizer que não gosta de uma comida que ainda não provou. Cada um pode comer o que quiser, mas pelo menos, experimentar não custa nada;
7) Substituir refeições: não quer arroz e feijão, então toma uma mamadeira. Esse erro é muito comum, e se a criança conseguir uma vez, vai repetir essa estratégia sempre;
8) Não faça da comida uma forma de recompensa ou moeda de troca. Exemplo: oferecer um sorvete se o filho se sair bem na escola ou comer toda a salada. “Coma toda a sopa para ganhar a sobremesa”. Passa a idéia de que tomar sopa não é bom e que a sobremesa é que é o máximo;
9) Não ameaçar castigos para quem não cumpre o combinado: “Se não comer a salada, não vai ganhar presente”. Isso somente vai aumentar o ódio que a criança sente das saladas;
10) Não subestime o poder de compreensão dos pequenos. Negar uma guloseima pode virar um “drama” para eles, mas só no início. A criança sem limites vai abusar das calorias e das guloseimas. Mesmo os adolescentes devem ser incentivados a ter apenas um dia por semana e situações em que podem ser mais liberais;
11) Evitar tornar a ida a uma lanchonete um “programão”: a comida de casa fica meio sem graça;
12) Servir sempre a mesma comida: a criança só toma iogurte, então passa o dia todo tomando iogurte. Vai enjoar, vão faltar nutrientes, vão faltar fibras;
13) O processo de reeducação alimentar costuma ser mais longo em crianças. Não tenha pressa. O ideal é começar retirando aos poucos os alimentos que engordam;
14) Incentive seus filhos a praticarem esportes ou atividades físicas. Dê preferência principalmente as modalidades individuais no início, porque evitam alguns constrangimentos, como gozações e piadinhas dos colegas, além da pressão para um bom desempenho;
15) Procurar conforme a disponibilidade, ajuda de profissionais multidisciplinares como: médico, nutricionista, psicólogo e orientador de atividades físicas;
16) Toda a família deve apoiar e auxiliar no seu tratamento, evitando insistir no preparo de alimentos inadequados e não ridicularizando suas atitudes e esforços;
17) Dar o exemplo: as crianças e muitas vezes ainda os adolescentes seguem os exemplos e os hábitos dos pais. Não adianta mandar tomar sucos e somente beber refrigerantes. Orientar dietas e atitudes saudáveis e fazer diferente disso;
Aos pais, que sirvam de bons exemplos para os filhos! Esta é uma herança que não depende da sociedade, mas do equilíbrio e do bom-senso. Que a família assuma seu papel de grande educadora em meio propício ao desenvolvimento da mente, moral e corpo saudáveis.
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Ana Navarro Comunicação Empresarial
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