domingo, 24 de julho de 2011

Disciplina e Indisciplina

Tania Zagury

Ser professor nunca foi tarefa simples. A disciplina, por exemplo, parece ter-se tornado particularmente problemática. É, aliás, um dos maiores desafios atuais da prática docente.
O caráter é o aspecto da personalidade que não decorre apenas da herança genética, embora seja por ela condicionada. Se as reações de caráter (adquiridas) se opuserem às tendências da personalidade (inatas) poderão tornar a pessoa angustiada e ansiosa.
Todo educador precisa ajudar a criança a estruturar o caráter, mas de acordo com seu temperamento. Forçar uma criança tímida a se tornar extrovertida pode prejudicar seu equilíbrio. O que devemos fazer é ajudá-la a capitalizar positivamente suas características. Se sua forma de ser pode lhe trazer dificuldades, devemos tentar amenizá-la, sem alterá-la em sua essência. Afinal, um pouco de introspecção é também condição positiva. Devemos atuar de forma a promover condições que a auxiliem a ter uma visão positiva de suas características,  ao mesmo tempo em que desenvolve novas formas de interação social.         
Essa atuação deve incluir também irmãos, colegas e adultos, a fim de que não exijam o que, para ela, representaria um grande esforço de auto-superação, nem sempre possível.
O mesmo se deve fazer em relação a crianças com características opostas - as extrovertidas, irrequietas, voluntariosas ou desconcentradas. Cada uma demanda um tipo de trabalho que as encaminhe para a superação harmoniosa de suas dificuldades, sem, no entanto, descaracterizá-las. Respeitam-se diferenças e peculiaridades, trabalhando no sentido de se alcançar a socialização, sem destruir a individualidade.
Na prática, implica transitar da idéia de disciplinamento para a de orientação da conduta. Para tanto, devemos estar preparados para enfrentar tanto os que exageram a noção de liberdade individual e pregam a completa abstinência de diretrizes orientadoras, quanto os que se posicionam no extremo oposto, defendendo uma volta às regras rígidas e punições severas para quaisquer atitudes de indisciplina. A meu ver, esses enfoques radicais são, em parte, causa da desorientação de parcela significativa da juventude. Temendo o conflito de gerações, o educador silencia, se omite ou, para demonstrar que é "moderno", aplaude desmandos e atos inconseqüentes.
Quem discorda, mas se retrai, age ou porque está impressionado com as teorias psicologizantes e julga que vai "traumatizar" os alunos ou, por comodismo, prefere fechar os olhos à realidade, aceitando como inevitáveis os desacertos dos alunos.
Desorientados, crianças e jovens entregam-se aos impulsos do hedonismo e do imediatismo: rompem os padrões vigentes e tentam criar uma realidade, na qual a ausência de compromissos para com os outros e para com a sociedade tornam-se a tônica.
Se da parte dos adultos há insegurança, comodismo ou desejo de ser considerado liberal, da parte dos jovens vários motivos explicam a conduta inadequada. Muitos julgam que se opondo às normas criadas pela sociedade estão utilizando uma forma de protestarem ou de encontrarem o próprio ego. Outros, desamparados num mundo violento e desigual, criado pela sociedade pós-moderna e, percebendo a própria incapacidade para enfrentá-lo, aderem aos demais. O triste, porém, é que uns e outros não se realizam na marginalização, tanto assim que alguns se suicidam ou refugiam no álcool, nas drogas, nos excessos sexuais, nos fanatismos religiosos ou políticos.
Se o jovem deseja liberdade, quer também amor e orientação.  Quando sente que a orientação de conduta é ditada pelo afeto e que os limites não são disfarces para o autoritarismo, aceitam-nos e aderem, sentindo-se protegidos e não subjugados. São os limites e as regras sociais que nos protegem de atos irrefletidos e nos dão sensibilidade e empatia.
A vida em comum exige que respeitemos leis e normas.  Para tanto, precisamos crer no princípio de que é possível sim, através de uma atitude afirmativa, aprimorar o que as novas gerações têm de positivo,  minimizando os traços que impedem a humanização da sociedade.
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   (*) Filósofa, Mestre em Educação, Autora de "Escola sem Conflito" e "Limites sem Trauma", entre outros

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