quarta-feira, 6 de julho de 2011

Muito além do castigo

Como alguns colégios estão mudando para reduzir os casos de indisciplina.


LUCIANA VICÁRIA E PALOMA COTES

         A indisciplina nas escolas aflige pais e professores. Diante de alunos cada vez mais ousados, a maioria dos educadores (tanto de colégios públicos quanto de particulares) encurta as rédeas, aumenta as punições, mas a freqüência dos abusos continua alta. Os alunos se recusam a incorporar padrões antigos e muitos professores não sabem como manter a autoridade em sala de aula. O problema não é novo. Pesquisa feita há 36 anos pelo instituto Gallup nos Estados Unidos apontou a indisciplina como uma das maiores preocupações nas escolas. Por 21 anos o tema encabeçou o topo da lista. E, quando deixou de liderar o ranking, figurava entre os três mais citados por professores e alunos. A diferença hoje é que as mudanças sociais, como menor reverência à autoridade, e tecnológicas, como relógios que permitem enviar e-mail, tornaram mais difícil administrar o caos. No Brasil, alguns colégios estão mudando sua maneira de criar regras e até de ensinar para lidar com o problema. E alcançam bons resultados.
         ''A conversa paralela entre alunos hoje incorpora celulares, que, mesmo se silenciosos, possibilitam trocas intensas de mensagens'', diz o professor Joe Garcia, que mantém um grupo de estudos sobre indisciplina na Universidade Tuiuti, que dá assessoria às escolas. Em São Paulo, as psicólogas Adri Dayan, Dina Azrak, Elisabeth Wajnryt e Ita Liberman montaram um curso que ensina professores a dialogar com seus alunos.
         Baseadas no método do best-seller Como Falar para Seu Aluno Ouvir e Como Ouvir para Seu Aluno Falar, que chegará às livrarias brasileiras ainda neste semestre (Summus Editorial), elas acreditam que ouvir as necessidades dos alunos e pensar sobre elas é a melhor forma de conter a indisciplina. ''Em lugar de ignorar os sentimentos das crianças, o professor deve aceitá-las e saber conduzir a situação'', explica Dina.
           Na Escola da Vila, em São Paulo, os alunos praticam a democracia desde o início do ensino fundamental. Em assembléias semanais, cada classe diz o que acha bom ou ruim tanto na escola quanto na convivência. Dois alunos montam a pauta da reunião, para colocar em discussão casos que são exemplos de situações positivas ou negativas. Pode ser um menino que agrediu o outro, ou uma atividade que eles gostaram de fazer.
         A crianças só não podem apontar os nomes dos envolvidos. ''Implementamos esse programa porque era preciso estimular a boa convivência entre os próprios alunos e a comunidade'', afirma a diretora-pedagógica da educação infantil Vania Marinck.
         ''São justamente essas questões que interferem no dia-a-dia da escola. Assim, os alunos puderam deliberar sobre seus problemas.'' Além disso, as crianças que passam o dia todo na escola ganharam uma ocupação para preencher os intervalos entre as aulas. Alguns trabalham em áreas administrativas, como xerox e secretaria, na monitoria de salas e até mesmo na cozinha. ''Foi a forma que encontramos para reduzir a ociosidade e a conseqüente indisciplina que vinha com ela'', conta Vania. Os alunos passaram a entender a dinâmica da escola e a valorizar mais os profissionais que trabalham nela. E os casos de indisciplina caíram tanto que a escola dispensou, em alguns horários, os funcionários que tomam conta dos alunos. ''Há muitos anos, qualquer atitude que fugisse às regras era considerada indisciplina. Hoje, vemos tudo com outros olhos'', diz Vania. 

Fonte: Revista Veja On-line   

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