sexta-feira, 1 de julho de 2011

“Mudanças da idade, entrada na vida adulta”

Deixando a adolescência...

   Com o término do ensino médio e o ingresso na universidade, inicia-se o processo de entrada no mundo adulto, que para muitos jovens pode já estar em andamento, com a saída da casa dos pais. Nesse processo, os novos valores irão se consolidar e serão feitas importantes escolhas que estarão, possivelmente, desenhando um esboço do que será no futuro a vida dessa pessoa.
   Na universidade, um novo mundo se abre: pessoas de diferentes idades, culturas, raças, crenças e valores, com escolhas e projetos de vida distintos, passam a fazer parte do mundo do recém-chegado. Nesse momento, ele começa a distanciar-se um pouco mais da família, experimentando outros modos de ser, pensar e viver. Não é mais uma fase de conflitos constantes, como a adolescência, mas ainda traz muitos momentos de discussão e negociações com os pais, que gradualmente passam a autoriza-lo e a mudar o foco de suas preocupações e atenções para outras questões familiares, ou mesmo pessoais e profissionais.
   Também nessa etapa da vida do jovem há um investimento em ampliar e amadurecer suas relações, tanto de amizade quanto amorosas. Os vínculos feitos têm grande importância e passam a ser de maior durabilidade, muitas vezes para a vida toda. A sexualidade começa a se tornar adulta e mais responsável, gradativamente, e o jovem passa a ter uma relação mais tranqüila com ela e com seu corpo, o qual também começa a conhecer melhor e a respeitar.

...entrando na vida adulta

   Há vários fatores que devem ser levados em consideração para definirmos o que é ser adulto. Terminar o ensino médio, entrar na faculdade e conclui-la, ter um emprego, sustentar-se financeiramente, sair da casa dos pais, assumir uma parceria...todas essas situações podem definir a idade adulta e, ao mesmo tempo, nenhuma delas a define por completo. Ser adulto é o resultado de um longo processo, que talvez nunca termine de fato. Mesmo quando o jovem torna-se um adulto, ainda passa por muitos momentos onde se comporta como uma criança ou adolescente, e tais momentos ainda se repetirão muitas vezes ao longo de sua vida.
   Mas, o que não pode deixar de ser dito é que o período de transição para a vida adulta é, ao mesmo tempo, o melhor e mais difícil na vida do jovem. É quando testamos nossa capacidade, mas nossos erros são perdoados. Podemos experimentar, até certo ponto, sem que sejamos julgados em nossos fracassos. É a união entre promessas e realidade, quando finalmente conseguimos vivenciar uma série de situações e liberdades há muito almejadas. Temos a tão sonhada independência. Mas, será que os jovens estão preparados para ela?
   Em nossa sociedade, ser auto-suficiente, autônomo e independente é algo bastante valorizado. No entanto, quem está entrando na vida adulta ainda tem uma série de inseguranças e, a pressão das oportunidades, aliada à ânsia em realizar, pode levar muitos jovens a se perderem no caminho. Pois já não existe mais a autoconfiança suprema da adolescência, em que eles se consideravam imortais. Agora, todos esperam deles que tomem suas decisões sozinhos, sendo que muitas vezes ainda precisam de ajuda para isso. Embora a auto-suficiência, independência e a autonomia sejam importantes, elas se tornaram cada vez mais difíceis de alcançar.
  Por todos esses fatores, muitos dos jovens entre 18 e 24 anos estão desenvolvendo algum tipo de problema emocional, entre os quais a ansiedade e a depressão, cada vez mais comuns nessa faixa etária. A atenção dos pais é fundamental para perceber quando isso ocorre e ajudar os filhos a superar de forma suave essa transição.

A ajuda preciosa dos pais

   Tanto os jovens como seus pais sofrem, nessa etapa da vida, uma grande ambivalência: os filhos, entre crescer e permanecer ligados e dependentes dos pais; estes, por sua vez, entre deixar crescer e segurar os filhos junto de si, de seus valores e sob seu crivo a cada nova decisão ou rumo que tomam. Acontece que, geralmente, nem os filhos nem os pais conseguem ou podem admitir isso claramente; afinal, espera-se que os primeiros já sejam maduros o bastante para se guiarem sozinhos, assim como não seriam vistos com bons olhos os pais que tentassem a todo tempo coordenar os passos desse jovem adulto. Há dois mitos por trás desse comportamento de pais e filhos: o “mito da maturidade” e o “mito do filho mimado”.
O mito da maturidade é a idéia de que ser maduro significa ser independente, no sentido de estar separado ou ser autônomo. É o mito de que os jovens só podem provar quem eles são mostrando que não precisam nem querem a presença dos pais. Já o mito do filho mimado é o de que os pais prejudicam o(a) filho(a) se continuamente lhe dão apoio e atenção. Ele se baseia na hipótese de que enfraquecemos o jovem ao lhe dar ajuda. Isso acaba fazendo com que filhos adultos não tenham coragem em pedir ajuda, e seus pais não tenham idéia de como ajuda-los em momentos de necessidade.
    É nessa fase da vida e em decorrência desse mitos, no entanto, que os pais mais precisam treinar os sentidos para ouvir e captar pistas do que está se passando com seus filhos. Quando os pais estão atentos às diferentes formas que a solidão, a perda e a confusão assumem, e quando eles aprendem a localizar os sinais de perigo, podem tratar e ajudar a corrigir problemas. A primeira grande tática é deixar claro que esta ligação, entre os pais e seus filhos, tão crucial para estes, não deixará de existir.
   O apego aos pais não deve ser coisa só para crianças; adultos também precisam dele, ainda que pareça estranho admitir a importância desse sentimento com o passar dos anos e a maturidade. Os pais devem garantir aos seus filhos adultos um espaço para ele, bem como manter rituais, que mostrem o quanto ainda pertencem uns aos outros. Isso não significa estar presente a cada instante, nem estar disponível para tudo, nem tampouco ajudar os filhos a sair de todas as suas enrascadas. Significa incentivar a autoconfiança deles nas suas capacidades de enfrentar situações, acompanha-los na administração de suas responsabilidades. Os pais serão, sempre, o abrigo que o jovem adulto procura quando se sente só em um mundo que sabe muito mais cobrar do que dar.
Em uma carta que escreveu a seu pai quando fazia residência médica em outra cidade, um já adulto de 25 anos desabafa:

S

O S é de super, de saudade e da solidão,
Que sinto distante de você.
Sou adulto, estou crescido, mas preciso do herói,
Que um dia foi o melhor jogador de futebol do mundo.
O homem mais forte e que tudo podia
E hoje é o melhor amigo, um certo abrigo, o escudeiro constante.
A minha admiração e amor por você é como esta letra,
Que começa, se inclina e se renova,
Ou seja, não tem fim.


Quando o jovem tem dificuldades em tornar-se adulto

   Muitos jovens, ao entrarem para o mundo adulto, sentem-se sozinhos e incapazes de transpor tantos obstáculos. Não é raro encontrar, nessa faixa etária, problemas como alcoolismo, envolvimento com drogas e excessos em geral, ou mesmo pessoas que desenvolveram algum tipo de ansiedade, distúrbios alimentares ou depressão. É preciso que os pais estejam atentos a isso, e não confundam um comportamento de risco com a simples liberdade que o jovem pode assumir por estar crescendo.
   Uma outra forma que pode assumir a dificuldade em encarar esse momento pode ser aquela em que se cortam etapas a fim de chegar logo à maturidade. Casamentos precoces, gravidez ou mudança de casa, por exemplo, podem ser formas que o jovem encontra para se tornar adulto sem passar pelo duro processo de amadurecer no tempo certo. Na maioria dos casos, no entanto, acaba por prolongar ainda mais esse caminho. Muitas vezes, tais comportamentos podem acontecer como uma espécie de fuga, em famílias cujos pais tentam impedir demais a autonomia dos filhos.

É preciso passar pelo fogo

    Por mais que os pais precisem estar atentos aos filhos nessa fase, entretanto, é preciso deixar que estes passem pelo árduo processo de amadurecer e se tornar adulto de fato. Eles não precisam estar sozinhos, e nem sem apoio. Mas um certo sofrimento é esperado, e desse ninguém poderá livra-los a não ser que deseje vê-los crianças pela vida afora. É preciso passar pelo fogo para deixar de ser um grão de milho sem valor e virar pipoca!

   É muito divertido ver o estouro das pipocas! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa.
Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos.
   Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente.
   Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! - e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

(trecho d’A Pipoca, de Rubem Alves em seu livro O amor que acende a lua)


Sugestão de leitura:

   “O mito da maturidade: o que os adolescentes precisam para se tornarem adultos” – Terri Apter. Rocco, 2004

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