terça-feira, 16 de agosto de 2011

O que estão ensinando às nossas crianças?


   O que mudou de 2007 para agora?   

  Boa parte dos livros didáticos apresenta distorções ideológicas. Por que elas existem e como comprometem a educação
ALEXANDRE MANSUR, LUCIANA VICÁRIA E RENATA LEAL - Revista época - 31/10/2007


A catarinense Mayra Ceron Pereira, que mora na cidade de Lages, se sentiu incomodada com a lição de casa do filho, no início do ano. Aluno da 7a série do colégio Bom Jesus, uma rede privada do sul do país, Gabriel, de 13 anos, tinha de definir o que é a mais-valia. Ela folheou o livro Terra e Propriedade, da coleção História Temática, que ele usa na escola, e encontrou uma foto de José Rainha, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Ele aparecia apenas como líder social”, diz Mayra. “Não havia a informação de que foi condenado pela Justiça.” Em uma leitura mais atenta, ela se incomodou ainda mais com o que identificou como maniqueísmo nos textos. “Os poderosos são sempre os vilões, e os proletários os coitados. Não acho saudável crescer dividindo o mundo entre vítimas e culpados”, afirma Mayra, que é vereadora do partido Democratas (ex-PFL). “Eu não quero um livro neoliberal. Quero que deixem meu filho desenvolver seu julgamento no futuro. Nesse livro, as pessoas já vêm julgadas e condenadas.”
Na central do colégio, em Curitiba, a informação é que o livro está sendo reavaliado como qualquer outro. “Estamos com essa coleção há oito anos e ela é uma das mais conceituadas na área. Pode ter problemas, mas nenhum livro é 100%”, afirma o educador Pedro Gardim, coordenador pedagógico do colégio. Segundo ele, a informação sobre José Rainha não estava no livro porque a edição usada era anterior à condenação. “O livro fala do MST, que é um movimento polêmico, mas importante para discutir o tema da terra. Assim como, mesmo sendo uma escola católica, falamos da Inquisição.” Segundo Roberto Catelli, um dos autores do livro, a obra não faz nenhuma apologia a José Rainha. Para Catelli, mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), o fato de o livro reproduzir trechos da versão em quadrinhos de O Capital, do filósofo e economista Karl Marx, sobre o conceito de mais-valia, também não é pregação ideológica. “O texto deixa explícito que se trata do pensamento de um autor, e não de uma verdade única”, diz. “O objetivo é que o aluno tenha acesso ao pensamento marxista, básico no estudo das ciências humanas.”
“No discurso da escola, mérito é um conceito burguês. E isso é visto como negativo” 
Bráulio Porto de Matos, da UnB


O caso suscita uma discussão relevante para as famílias de 42 milhões de estudantes do ensino fundamental e médio no Brasil, nas redes pública e privada. Afinal, o que se ensina às crianças e aos adolescentes do país? Há um mês, um artigo do jornalista Ali Kamel despertou a polêmica, ao transcrever trechos do livro Nova História Crítica no jornal O Globo. Para Kamel, o livro é uma “tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo”. ÉPOCA analisou o livro e encontrou trechos problemáticos, como “Adam Smith acreditava que as forças do mercado agiriam como uma mão invisível a regular a economia. Em suma, o vale-tudo capitalista promoveria o progresso geral de forma harmoniosa”, uma visão estereotipada do capitalismo, como um sistema desprovido de ética. Nova História Crítica foi um campeão de vendas. Teve 9 milhões de exemplares distribuídos desde 1998 pela rede pública de ensino e 1 milhão pela rede particular. Estima-se que 30 milhões de adolescentes estudaram História com ele. O autor, Mario Furley Schmidt, não se pronunciou. Arnaldo Saraiva, presidente da editora Nova Geração, respondeu que o livro “não é o único nem o primeiro que questiona a permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em nossa história”. Disse também: “Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade”. O livro de Schmidt já não faz parte da lista de recomendações do MEC. Fora aprovado, com ressalvas, pelas bancas que analisam os livros didáticos, em 1998, 2001 e 2004. Em 2007, quando a categoria “com ressalvas” acabou, ele foi rejeitado.
Mas há outros, com teor parecido. ÉPOCA fez um levantamento de 20 livros didáticos e 28 apostilas de História e Geografia adotados por escolas públicas e privadas. Em um país democrático, pode-se esperar que os títulos reflitam o amplo espectro ideológico e político da sociedade. Não é o que ocorre. A maioria dos livros – em especial os de História – é simpática ao socialismo e apresenta o livre mercado como um modelo econômico gerador de desigualdade e pobreza. Embora a ênfase seja desequilibrada para a ideologia de esquerda, isso faz parte do jogo democrático. O dado que assusta é a quantidade de distorções que os autores fazem em nome da visão socialista. Existem dois tipos de problemas. O primeiro é a omissão. Ao tratar de revoluções socialistas, como a da China e a de Cuba, vários livros deixam de mencionar o caráter opressivo e ditatorial desses regimes. Além disso, a ideologia leva alguns autores a publicar informações erradas, como dizer que a globalização aumentou a pobreza mundial. Segundo dados da ONU, a abertura do comércio internacional da década de 90 fez com que a renda per capita dos países pobres crescesse mais que a dos países desenvolvidos (confira nos quadros).
   “Os professores empreenderam uma grande luta de retorno à democracia. Estamos em uma fase de transição” Célio Cunha, da Unesco

O caso mais impressionante é o do material elaborado pelos professores da rede estadual do Paraná no programa Livro Didático Público. Seus livros vão para 450 mil alunos do ensino médio. Há até um livro de Educação Física com um capítulo intitulado “Faço esporte ou sou usado pelo esporte?”, em que a atividade física é apresentada como ferramenta de exploração capitalista. “Regras: é preciso respeitá-las para sermos bons esportistas. Em nossa sociedade, devemos ser submissos às regras impostas pela classe dominante”, escreve o autor. “Em nosso convívio social, devemos respeitar nossos colegas (...), contribuindo com o êxito da equipe ‘de trabalho’, isso quer dizer ‘enriquecer cada vez mais os patrões’.” O governo paranaense diz que não houve orientação ideológica para os autores. “Algumas perspectivas podem ser vistas como reducionistas, mas todas as realidades existem”, diz o filósofo Jairo Marçal, coordenador do programa. “Seria complicado assumir o relativismo que acaba aceitando todas as posições como corretas. Não se pode mais fazer uma crítica ao modelo econômico que está colocado?”
Quem escreve livros como esses? Escritores revolucionários? Nem tanto. O autor dos capítulos de Educação Física do Paraná é Gilson José Caetano, de 30 anos, casado com uma professora de Educação Física e pai de uma menina de 2 anos. Ele é professor no município de Turvo, com 14 mil habitantes. Sua formação é o curso de Educação Física de uma universidade particular de Palmas, no interior do Paraná. Caetano é diretor da Escola Joanna s Lechiw Thomé, com 96 alunos entre a 5a e 8a séries. Para chegar lá, todas as manhãs percorre 17 quilômetros de estrada de terra. Metade do caminho dentro de uma van contratada pelos professores, metade de carona no ônibus escolar dos alunos. À tarde, leciona para 180 estudantes do Colégio Estadual Edite Cordeiro. À noite, faz bico como instrutor de uma academia de ginástica. “Aqui no interior é difícil alguém notar o nosso trabalho. O livro foi uma grande oportunidade”, diz.
Para escrever seu livro de esporte com críticas ao capitalismo, Caetano diz ter escolhido “um recorte baseado no materialismo histórico dialético”, referindo-se à concepção de História desenvolvida por seguidores de Karl Marx. Ele afirma que o marxismo seria a base teórica de consenso entre os professores que criaram as diretrizes da Secretaria de Educação do Paraná. “Todo livro didático público tem uma visão. Se partirmos da neutralidade, não pensamos um aluno crítico”, diz. “Isso não significa que eu seja comunista. Nem me interesso muito por política.” Caetano se diz um atleta frustrado. “Praticava todos os esportes, mas nunca descobria minha habilidade. Meu professor de Educação Física se preocupava tanto em ajudar os alunos que resolvi ser como ele. Quero fazer algo pela comunidade por meio da formação dos estudantes.”
Em uma apostila do sistema Anglo, os autores Claudio Vicentino e José Carlos Moura, de São Paulo, escrevem: “o império da sociedade de consumo é um mundo em que alguns são senhores do mercado e a esmagadora maioria sua vítima”. Por e-mail, eles explicaram seu texto. “Consideramos que esses problemas transcendem uma visão ideológica, seja ela de direita ou de esquerda, e inclusive por isso assinalamos na mesma página, logo a seguir, que nem o socialismo real e nem o capitalismo foram capazes de resolver esses grandes impasses da humanidade.”
Já a professora Katya Picanço escreveu um capítulo intitulado “Ideologia” em uma apostila de Sociologia distribuída na rede pública do Paraná. Em sua obra, a autora afirma que “na sociedade capitalista, o poder público está a serviço da classe dominante, via seus representantes no governo”. Na opinião de Katya, “é óbvio que os políticos estão a serviço da classe dominante, senão a sociedade teria mudado”. Roberto Catelli, no livro Terra e Propriedade, descreve a revolução chinesa de Mao Tsé-tung, mas não menciona que seu regime opressor promoveu um dos maiores massacres da História. Catelli afirma que optou por um recorte econômico, não político. Sua resposta é a mesma em relação à ditadura de Fidel Castro: “Só mencionamos o bloqueio econômico dos Estados Unidos a Cuba, uma questão política, porque ele teve impacto direto na economia do país”.
Alguns autores, diante das críticas, afirmam que os livros didáticos com problemas serão revisados. É o caso de Uma História em Construção, que tem a ilustração de um americano esmagando o Brasil. O autor, José Rivair Macedo, diz que vai reformular o conteúdo e a parte gráfica. “Estamos revendo uma série de aspectos conceituais e formais, de modo a tornar a obra mais objetiva e em consonância com as atuais propostas de ensino”, afirma. Procuradas por ÉPOCA, as editoras Saraiva, Scipione e Moderna não quiseram se manifestar.
A doutrina política de esquerda não é o único problema do mercado didático. O livro Banzo, Tronco & Senzala, da editora Harbra, foi recolhido da rede de Brasília em 2003 porque sua ilustração de capa trazia escravos negros com traços faciais semelhantes aos de macacos. No início de 2003, o caso foi denunciado por um pai de aluno ao senador Paulo Paim (PT-RS) – que procurou o governo do Distrito Federal. Embora não fosse distribuído pelo governo, muitas escolas compravam o livro com orçamento próprio. “O caso é chocante porque é extremo. Mas não é difícil achar ilustrações que embrutecem a face dos negros nos livros didáticos”, afirma a educadora Andréia Lisboa de Sousa, doutoranda em currículos escolares na Universidade do Texas.
Em outra coleção excluída depois de ser distribuída por três anos pelo MEC, os índios são retratados como seres incivilizados, e os nordestinos como culpados pela pobreza nas grandes cidades. No volume para a 6a série de Uma História em Construção, lê-se: “Comparando o tipo de vida dos indígenas com o dos civilizados, notamos grandes diferenças” (o termo civilizados, segundo consenso dos antropólogos, é preconceituoso, pois implica que os índios não têm civilização. Seriam, portanto, selvagens). No livro para a 7a série, o autor escreve: “A fome não diminuiu no Nordeste, mas foi trazida para o Sudeste e para o Sul. Quem trouxe? Os 28 milhões de migrantes que marcharam para as regiões desenvolvidas”.
Os escritores de livros didáticos são os maiores vendedores de livros do Brasil. Segundo levantamento da Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, 53% dos 310 milhões de exemplares vendidos no ano passado no país se encaixavam nessa categoria. O segmento representa mais da metade do faturamento do mercado editoral brasileiro. Autores que estão há décadas no mercado já venderam milhões de exemplares e formaram gerações. Até autores novos no ramo podem alcançar esse volume em apenas uma única venda para o programa do governo federal de distribuição de livros para escolas da rede pública. São números expressivos para um mercado em que fenômenos como Harry Potter saem com tiragem inicial de 350 mil exemplares. Potter precisou de cinco volumes para bater a casa dos 2 milhões de livros vendidos.“Livros que induzem a preconceitos e estereótipos levam a uma formação errada, uma visão distorcida do mundo. Formam pessoas racistas, com xenofobia. As idéias de que no Nordeste só há seca e miséria e que todos os alemães são nazistas não ajudam o aluno a compreender o mundo”, afirma a historiadora Margarida Matos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ela coordenou a banca que excluiu o livro Nova História Crítica da lista do MEC neste ano. A visão doutrinária foi apenas um dos problemas identificados. Schmidt, o autor, faz ainda abordagens estereotipadas de períodos e personagens históricos e abusa de expressões coloquiais. No livro para a 5a série, ele especula sobre as razões da expansão do cristianismo: “Muitas pessoas ricas começaram a adotar o cristianismo. Estavam cansadas de sua vida vazia, de egoísmos e de futilidades. As orgias alegravam por um tempo, mas depois vinha a depressão”.
O grande impulso para o mercado de livros didáticos vem do governo federal. O Ministério da Educação (MEC) destinou R$ 746 milhões à compra de livros didáticos para o próximo ano letivo nas redes federal, estadual e municipal. O programa brasileiro é o terceiro maior do mundo – só fica atrás dos programas da China e dos Estados Unidos, segundo estudo do economista Fábio Sá Earp, coordenador do Laboratório de Economia do Livro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para as editoras, é um mercado de mais de 37,6 milhões de alunos da rede pública. Boa parte dos livros com viés ideológico de esquerda passa pela análise do governo federal. Em cada disciplina, os livros são analisados por uma banca de especialistas de uma universidade pública. Dos 587 inscritos no ano passado, 182 foram excluídos. As escolas privadas não são obrigadas a seguir a lista dos livros aprovados pelo MEC. Mas geralmente a usam como referência.
Quem escolhe os livros didáticos
Como o material é avaliado nas redes pública e privada
O autor escreve o livro didático. A cada três anos, as editoras encaminham suas coleções para avaliação do Ministério da Educação. No ano passado, 13editoras inscreveram 587 coleções
NAS ESCOLAS PÚBLICAS
1 - O MEC envia esses livros para universidades públicas. Cada disciplina vai para uma universidade, que monta uma banca de professores da área para avaliar o conteúdo
2 - As universidades têm seis meses para elaborar um parecer justificando quais livros serão aprovados e excluídos. Além de um documento com recomendações e ressalvas para auxiliar o professor na escolha dos livros aprovados
3 - Entre março e abril, o MEC divulga a lista dos aprovados. E envia a justificativa de exclusão dos não aprovados para as editoras
4 - A lista fica na internet e as escolas públicas escolhem, com os professores, os livros que vão usar
5 - O MEC compra os livros e, no início do ano seguinte, eles estão nas mãos dos alunos
NAS ESCOLAS PARTICULARES
1 - Vendedores das editoras mostram os livros nas escolas particulares
2 - A maioria das escolas usa como referência a lista de aprovados pelo MEC, por opção própria
APOSTILAS
Algumas escolas do país usam sistemas de apostilas feitas por grandes empresas de educação como Objetivo, Anglo, Pitágoras, UNO e Positivo.
O material feito por essas editoras nem passa pelo MEC
Fontes:
Ministério da Educação, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e Associação Brasileira de Editores de Livros


EDUCAÇÃO FÍSICAGilson José Caetano em uma escola estadual do Paraná. Segundo seu livro, “em nossa sociedade, devemos ser submissos às regras impostas pela classe dominante”
As bancas das universidades que analisam os livros para o MEC costumam rejeitar títulos por má qualidade do conteúdo. São freqüentes os casos de livros recusados por informações incorretas, uso de linguagem inapropriada ou mesmo expressões racistas ou preconceituosas. Um dos critérios para a exclusão de livros é s a doutrinação política. Mas a banca deixa passar títulos que condenam o capitalismo e enaltecem o socialismo. Apesar da polêmica, o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que não vai reformular o sistema de avaliação por bancas, iniciado no governo FHC. “O Ministério da Educação não pode, sob pena de cometer gravíssimo erro, adotar a postura de censor. Em educação, a avaliação que dá certo é a avaliação feita por pares. Ela pode ter imperfeições, mas é melhor que qualquer outra”, disse Haddad.
Na avaliação pelos pares, esse viés que condena o capitalismo não choca boa parte dos acadêmicos. “O professor é de esquerda porque não acredita que haja uma solução para o problema da desigualdade que emane da direita”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro, diretor de avaliação da Capes, fundação do MEC que investe na pós-graduação. “Afinal, a direita governou o país quase o tempo todo. Ela gerou este país.” O próprio Janine Ribeiro apresenta sua visão do liberalismo econômico. “Para a riqueza das elites aumentar, é preciso mexer no bolo. Se alguns passam a ganhar mais, é provável que isso diminua o que vai para os que já ganham menos”, diz. Essa visão se baseia na concepção de que a riqueza é finita. Mas a corrente de pensamento econômico predominante é de que é possível criar valor – quando um país prospera, sua economia cresce, o que pode gerar riqueza para todos os estratos sociais.
Por que o ensino de História ganhou esse tom anticapitalista no Brasil? Segundo alguns economistas e educadores, isso é resultado de uma mudança no perfil dos professores ocorrida na década de 70. Naquele momento, a expansão da educação básica aconteceu à custa da redução do salário dos professores. O poder de compra deles hoje é até 70% menor do que foi na década de 50, de acordo com o sindicato dos professores do Estado de São Paulo (Apeoesp). Samuel Pessoa, economista da Fundação Getúlio Vargas, diz que o professor reage por conviver, em sala de aula, com crianças miseráveis, vítimas de violência e sem perspectivas. “É razoável que os professores se revoltem contra esta situação. Daí a surgir um pensamento de esquerda, parece meio natural”, afirma.
Segundo Pessoa, no entanto, o discurso marxista chega distorcido e pouco aprofundado, de modo que o discurso se resume a uma crítica ao capitalismo perverso. “Para entender o mundo, os professores passam a adotar uma lógica conveniente, simplista e sedutora, em geral conspiratória da História”, afirma. “Imagine que fácil se toda a tragédia social do país pudesse ser explicada pela globalização. Se todas as mazelas de países subdesenvolvidos fossem fruto apenas de forças externas e nunca de opções erradas que se fez durante o desenvolvimento.”
“Para entender o mundo, os professores passam a adotar uma lógica conveniente, simplista e sedutora” 
Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas
A visão maniqueísta da História pode ser encontrada já no curso de Pedagogia. Para mostrar isso, Bráulio Porto de Matos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, compara os manuais de didática mais usados pelos professores na década de 60 com o livro mais popular de hoje. O manual de Amaral Fontoura, usado até os anos 70, era principalmente técnico: fazia críticas ao processo de ensino. A obra mais atual, de Carlos Libâneo, no entanto, já em suas primeiras páginas fala sobre a perversidade do capitalismo: “As relações sociais do capitalismo são, assim, fortemente marcadas pela divisão da sociedade em classes, onde capitalistas e trabalhadores ocupam lugares opostos e antagônicos no processo de produção. A classe proprietária dos meios de produção retira seus lucros da exploração do trabalho da classe trabalhadora”.
De certa forma, a esquerdização dos professores no Brasil foi um reflexo do período de ditadura militar no país, nos anos 70. “Os professores empreenderam uma grande luta de retorno à democracia”, diz Célio Cunha, assessor de educação da Unesco no Brasil. “Estamos em uma fase de transição. Naturalmente estes livros refletem a realidade recente do país”, diz. Para ele é importante manter o direito de livre escolha do professor. “É a continuidade desse processo que nos colocará, daqui a alguns anos, em um ponto de equilíbrio.” Mas a transição talvez esteja demorando demais em um país que abandonou a ditadura há 20 anos. E ela não justifica o maniqueísmo assumido pelos livros.
A qualidade dos livros didáticos e a preocupação com os pontos de vista que eles veiculam não são uma questão importante somente no Brasil. “Os livros de História de qualquer sociedade não têm, necessariamente, um compromisso com a verdade”, afirma Bárbara Freitag, pedagoga da Universidade de Brasília. “Diariamente aparecem denúncias e descobertas que impõem a revisão do que se escreveu e permitem uma aproximação à verdade.” Nos Estados Unidos, existem pelo menos três organizações que se dedicam a estudar e, eventualmente, denunciar os conteúdos ensinados nas escolas e nas faculdades americanas. Elas dizem querer garantir a liberdade de pensamento e evitar a doutrinação, por parte dos professores, de qualquer crença, ideologia política ou convicção.
Recentemente, na Inglaterra, alguns pais se mostraram preocupados com a educação de seus filhos. De acordo com eles, o papel histórico do país como grande colonizador da Índia e de países africanos e sua participação nas duas guerras mundiais estariam sendo suavizados. A explicação para o abrandamento da História estaria no fato de que muitos indianos e africanos oriundos de ex-colônias britânicas estudam nas escolas inglesas. Rever a História e consertar no papel os possíveis excessos cometidos pela Inglaterra poderia evitar uma animosidade entre os alunos, impedir a exacerbação do nacionalismo nos imigrantes e da xenofobia nas demais crianças.
Mas talvez o maior exemplo de vigilância em relação aos livros didáticos seja dos alemães. “O governo é muito rigoroso com os livros com os quais as crianças vão estudar e com os professores que darão aulas”, diz Henning Suhr, assessor político da Fundação Konrad Adenauer. “Se algum professor disser que o nazismo não foi tão ruim, é imediatamente exonerado.” Demonstrações de nacionalismo, como o ato de cantar o hino nacional nas escolas, são vetadas.
QUEIXASGabriel e a mãe, Mayra, com o volume de História da escola. “Neste livro, as pessoas já vêm julgadas e condenadas”, diz ela
Há quem diga que a ideologia nos livros didáticos não é um problema. “O viés esquerdista dos livros importa pouco”, afirma o sociólogo Alberto Carlos Almeida, diretor de planejamento da empresa de pesquisa Ipsos e autor do livro A Cabeça do Brasileiro. “Porque, à medida que a pessoa estuda, sua cabeça muda. Em geral, quem estuda mais tem uma visão menos estatizante.” Outro argumento de pensadores que minimizam o problema é que as fontes de informação no mundo atual são múltiplas e, por isso, contrabalançam qualquer viés na escola.
Mas, para milhões de crianças e jovens, isso não é verdade. “O material didático tem uma importância grande na formação do aluno pelo mero fato de ele ser, muitas vezes, o único livro com o qual a criança entrará em contato”, afirma a pedagoga Bárbara Freitag, da UnB. O conhecimento registrado no livro escolar também tem status maior que o da televisão, da internet ou mesmo da conversa com os pais. E, quanto mais nova é a criança, menos capacidade ela tem de questionar o que é mostrado no livro. “O didático representa para a criança a fonte do conhecimento valorizado pela sociedade”, afirma Ângela Soligo, coordenadora de pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Por isso, ela tende a acreditar piamente em tudo o que está ali. Aquele conteúdo é visto como absolutamente verdadeiro.” Alguns bons professores levam para a sala recortes de revistas e s jornais, filmes ou outros livros de referência. “Mas algumas vezes o professor usa o livro como bengala”, diz Bárbara.
Embora a supremacia do livro seja incontestável, a internet já começa a proporcionar conteúdos capazes de rivalizar com esse conhecimento. Sites como a Wikipédia apresentam informações cuja veracidade é equivalente à dos livros didáticos. O problema é que essa ainda é uma fonte de pesquisa restrita. “Poucos professores mandam seus alunos pesquisar na internet. E o número de alunos que efetivamente pesquisam é menor ainda”, afirma Vani Kenski, da USP, especialista em tecnologia da educação.
O dano que livros didáticos ruins podem causar ao país vai além da questão política. “Eles ensinam para crianças e jovens fatos que não são verdadeiros, distorcendo a finalidade da educação”, diz o cientista político Bolívar Lamounier. É nessa fase do ensino fundamental e do ensino médio que os jovens se interessam por questões políticas. “Se receberem uma informação distorcida, criarão uma visão de mundo também distorcida.”
“Se receberem uma informação distorcida, os alunos criarão uma visão de mundo também distorcida” Bolívar Lamounier, cientista político
Segundo Bráulio Porto de Matos, da UnB, essa visão gera nas pessoas um sentimento de culpa indevida diante das riquezas advindas do próprio trabalho. “O sujeito vê que tem três carros na garagem e acha que tem de votar na esquerda porque aquilo é injusto”, diz. Para Matos, mais grave é o efeito na vida prática. “Quem analisa o mundo segundo uma ótica de conflito de classes tende a acreditar menos na iniciativa individual. No discurso da escola, mérito é um conceito burguês. E isso é visto como negativo.” Segundo Matos, essa educação desestimula as pessoas a empreender e a buscar o lucro como prêmio pelos esforços. “Esses livros não vão fazer uma revolução socialista no país, mas o Brasil fica mais pobre de perspectivas”, diz.
A presença de distorções em livros que, muitas vezes, passam pelo próprio crivo do MEC é um problema complexo. Mas pode ser resolvido. Lamounier aponta alguns caminhos. “Um deles seria criar comissões de análise mais pluralistas, com membros de diversas filosofias”, diz. “Outra estratégia seria convidar, para escrever os livros, pessoas com capacidade de expor os fatos de forma mais objetiva.” Para Marco Antonio Villa, historiador da Universidade Federal de São Carlos, o ideal seria haver uma profunda revisão dos livros. “A universidade precisa estar ligada a esse processo”, diz. “Livros didáticos não podem ser obras individuais, precisam ser coletivas.”


O discurso dos livros

Como é a História, segundo alguns dos livros didáticos e apostilas usados por alunos das escolas brasileiras
CAPÍTULO I
REVOLUÇÃO CHINESA
Em alguns livros, os autores apresentam a tomada do poder pelos socialistas, liderados por Mao Tsé-tung, e suas reformas. Mas omitem a repressão e o sistema ditatorial que dura até hoje.
O QUE DIZ
“Em janeiro de 1949, abandonado pelos que o protegiam (os Estados Unidos), Chiang Kai-shek foi derrotado por Mao Tsé-tung e refugiou-se em Taiwan, onde estabeleceu o seu governo. Triunfava assim a revolução comunista na China.” (História – Origens, Estruturas e Processos/Ensino Médio. Luiz Koshiba. São Paulo: Atual, 2000)

O QUE FALTA
Sob o regime de Mao Tsé-tung (1949-75), a China teve fome, pobreza e opressão. Estima-se que até 70 milhões de pessoas morreram. Segundo o livro Mao: a História Desconhecida, de Jung Chang e Jon Halliday, 38 milhões de pessoas morreram de fome e excesso de trabalho. Pelo menos 27 milhões morreram em campos de trabalhos forçados. Mais de 3 milhões tiveram mortes violentas. Outros 3 milhões foram executados, vítimas de linchamento ou se suicidaram. O país progrediu após a morte do líder, mas a ditadura permanece até hoje. A comunicação é apenas de fonte oficial do governo. A internet é censurada.

CAPÍTULO II
REVOLUÇÃO CUBANA
Os autores contam os resultados da revolução comunista em Cuba, mas não mencionam a censura, a opressão e a ditadura que permanecem até hoje.
O QUE DIZ
“A Revolução Cubana conseguiu eliminar o analfabetismo, reduzir a mortalidade infantil e o desemprego. Os trabalhadores tiveram acesso facilitado à moradia, à saúde pública e à alimentação.” (História 8, Projeto Araribá, Editora Moderna)
“(...) a guerrilha de Sierra Maestra não era socialista em sua origem, já que a Revolução Cubana foi uma luta armada contra um ditador, em cujo desfecho a sociedade se viu obrigada a optar pelo socialismo.” (História – Origens, Estruturas e Processos/Ensino Médio. Luiz Koshiba. São Paulo: Atual, 2000)

O QUE FALTA
A revolução cubana de Che Guevara e Fidel Castro determinou a opressão dos opositores ao novo regime e cerceou a liberdade da população. Até hoje os cubanos precisam de autorização do governo para sair do país. Não há eleição para presidente. Pelas ruas, circulam carros com décadas de uso. A população depende de vales para obter alimentos, roupas etc.

CAPÍTULO III
CONSUMO
Predomina a leitura de que o consumo é algo negativo, praticamente imposto pelos meios de comunicação. Não se fala que as pessoas vivem melhor em sociedades afluentes.
O QUE DIZ 
“Um jovem hippie dos anos 60. Observe suas roupas. Descontraído, ele despreza a ‘sociedade de consumo’ que produziu as guerras, a pobreza, o endeusamento do dinheiro. Do outro lado, o yuppie, executivo dos anos 80 e 90, feliz com seu sucesso financeiro” (Nova História Crítica. Mario Furley Schmidt. São Paulo: Nova Geração, 2002)
“Ou as próprias preocupações foram induzidas pelo ‘marketing’, pela ‘propaganda’ e não refletem uma preocupação sobre o ato de consumir (o que você entende por ‘ato de consumir’?). O indivíduo ‘é reduzido ao papel de consumidor, sendo cobrado por uma espécie de obrigação moral e cívica de consumir’.” (apostila do programa Livro Público do Governo do Paraná, capítulo “Dinheiro Traz Felicidade”, Gisele Zambone)
“Muitas sociedades do Terceiro Mundo também sofreram influência de uma série de valores culturais externos. Hoje em dia, grande parte da moderna tecnologia de comunicação de massa (internet, cinema, televisão, revistas, jornais) projeta muitos valores que interessam às sociedades capitalistas mais desenvolvidas e às elites locais desses países: individualismo extremo, consumismo, ruptura das tradições locais, busca desenfreada do lucro etc.” (História Global – Brasil e Geral/Volume Único. Gilberto Cotrim. São Paulo: Saraiva, 2002)

O QUE FALTA
Em busca de lucros, as empresas inovam seu processo produtivo. A concorrência faz com que ofereçam cada vez mais produtos por preços menores. Bens de consumo – como geladeira, telefone, TV – se tornam acessíveis aos mais pobres e melhoram suas condições de vida.

CAPÍTULO IV
ECONOMIA CAPITALISTA
Predomina a versão de que o sistema capitalista aumenta a pobreza e a desigualdade – mesmo tendo os países capitalistas gerado maior prosperidade para suas populações.
O QUE DIZ 
“No início do século XXI, os resultados práticos desse modelo (neoliberalismo) começaram a aparecer nas estatísticas, revelando o que seus críticos sabiam desde o princípio: o mercado, sem controle, não distribui renda nem riqueza, concentra-as nas mãos de uma minoria. Traduzindo: enriquece mais os ricos e empobrece mais os pobres.”(História do Brasil no Contexto da História Ocidental/Ensino Médio. Luiz Koshiba e Denise Pereira. São Paulo: Atual, 2003)
“Crie um exemplo de mais-valia, tomando por base alguma situação real de nossa sociedade capitalista.” (exercício proposto por História Temática: Terra e Propriedade, 7a série. Andrea Montellato, Conceição Cabrini, Roberto Catelli Junior. São Paulo: Scipione, 2005 – Coleção História Temática)

O QUE FALTA
A história oferece boas comparações de modelos econômicos. A Coréia do Sul enriquece com o capitalismo, e a do Norte mantém a pobreza, com altas taxas de mortalidade infantil e baixa expectativa de vida. A Alemanha Ocidental prosperou mais que a Oriental, comunista.

CAPÍTULO V
GLOBALIZAÇÃO
É apresentada como a nova forma de imperialismo. As nações ricas exploram as pobres. Falta dizer que a abertura de mercados também dá oportunidades aos países pobres.
CAPITALISMO Uma loja da rede McDonald’s em Pequim. Mesmo países como a China abrem sua economia
O QUE DIZ 
“A riqueza material produzida nos países que adotam o sistema capitalista não é distribuída de forma equilibrada entre as populações. É brutal o abismo existente entre as sociedades dos países ricos e as dos países pobres. Calcula-se que 80% da renda produzida no mundo concentra-se nas mãos de 15% da população do planeta, que vive nos países ricos.”
(História Global: Brasil e Geral/Volume Único. Gilberto Cotrim. São Paulo: Saraiva, 2002)
“Muitas sociedades do Terceiro Mundo também sofreram influência de uma série de valores culturais externos. Hoje em dia, grande parte da moderna tecnologia de comunicação de massa (internet, cinema, televisão, revistas, jornais) projeta muitos valores que interessam às sociedades capitalistas mais desenvolvidas e às elites locais desses países: individualismo extremo, consumismo, ruptura das tradições locais, busca desenfreada do lucro etc.” (Idem)
“A globalização tende, portanto, a elevar o número de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza, principalmente na América Latina, na Ásia e na África. O resultado tem sido a organização de movimentos de denúncia da globalização, como o Fórum Social Mundial.” (História 8, Projeto Araribá, Editora Moderna)
“Esse processo é denominado divisão internacional do trabalho e favoreceu os países detentores de tecnologia mais avançada, que podiam produzir bens de consumo a preços baixos. Os demais países ficaram condenados a colocar no mercado internacional apenas matérias-primas e produtos agrícolas. Esse processo agravou o abismo econômico que separa nações pobres e ricas.” (apostila com módulo de História do Sistema UNO de Ensino, de Nicolina Luiza de Petta)
“É o império da sociedade de consumo, perseguidora de maior produção, que continua a destruir o que resta de meio ambiente saudável no planeta. Cada vez mais destituída de solidariedade humana, essa sociedade consumista substitui a sociedade de cidadãos. É um mundo em que alguns são senhores do mercado e a esmagadora maioria, sua vítima; tanto uns como outros mais e mais desumanizados.” (apostila História 3 – coleção Anglo. Cláudio Vicentino e José Carlos Pires de Moura)

O QUE FALTA
A globalização beneficiou países periféricos, como China, Índia e Brasil, que atraíram grandes investimentos de empresas que geram emprego. Esses países também passaram a competir no mercado global com suas empresas. Dados da ONU mostram que, entre 1985 e 2000, o valor das exportações anuais de todos os países do mundo aumentou de US$ 1,9 trilhão para US$ 6,3 trilhões. A renda per capita dos países em desenvolvimento subiu, em média, 5% ao ano durante a década de 1990 – bem acima dos países desenvolvidos. Os Tigres Asiáticos ficaram ricos com a entrada no mundo globalizado.

CAPÍTULO VI
REFORMA AGRÁRIA
A reforma agrária é apresentada como solução para a concentração de terras no Brasil. Não se fala que o setor terciário urbano é que tende a absorver essa mão de obra.
INVASÃO Membros do Movimento dos Sem Terra em propriedade privada
O QUE DIZ 
“A luta pela posse da terra é uma guerra não concluída na América Latina.”(apostila com módulo de História do Sistema UNO de Ensino, de Nicolina Luiza de Petta)

O QUE FALTA
Existe um moderno setor de agronegócios no Brasil que gera um terço do PIB nacional e exige cada vez menos mão-de-obra. Por outro lado, a população brasileira é cada vez mais urbana e as oportunidades de emprego tendem a surgir no setor de serviços das cidades.

CAPÍTULO VII
VIVA A REVOLUÇÃO
A revolução armada é apresentada como solução justificável para acabar com a opressão. Os autores omitem que esses golpes costumam levar a ditaduras.
O QUE DIZ 
“Uma vez que os poderosos beneficiários de qualquer sistema baseado na desigualdade social não estão dispostos a abrir mão espontaneamente de seus privilégios, o confronto violento é uma das possibilidades permanentes e inerentes a todo processo de mudança histórica estrutural, o que explica a importância do caráter militar das revoluções.” (História – Origens, Estruturas e Processos/Ensino Médio. Luiz Koshiba. São Paulo: Atual, 2000)
“No Rio Grande do Sul, mulheres aprendem a atirar – a busca pela terra prometida sempre se faz através de muita luta.” (Brasil: uma História em Construção/Volume 2. José Rivair de Macedo e Mariley Oliveira.
Editora do Brasil)

O QUE FALTA
Há 20 anos não há revoluções armadas no mundo. No Brasil, com a volta da democracia em 1985, os cidadãos têm mudado os rumos do país pelo voto. Já elegeram governos de direita e de esquerda. Países desenvolvidos, como os europeus, oscilam entre governos dos dois tipos dentro de seus regimes democráticos.

CAPÍTULO VIII
DOMINAÇÃO
Alguns livros didáticos do Estado do Paraná reduzem o mundo a um conflito entre as elites dominantes e os povos dominados.
O QUE DIZ 
“Assim, há uma dominação ideológica que se desenvolve com a intenção de reproduzir a sociedade e fazer com que as regras e o lugar que cada um ocupa – os que dominam e os dominados – continue o mesmo (sic), ou que as mudanças ocorram dentro do controle daqueles que têm interesse em manter tudo como está.” (apostila do programa Livro Público do Governo do Paraná, Ideologia, Katya Picanço)
“Para o cientista político Norberto Bobbio (1909-2004), o uso da informação realizado pela indústria cultural produz doutrinação, uma vez que dita o que será veiculado pela mídia, filtrando o que será produzido e impedindo a difusão da cultura popular e a crítica à cultura dominante.” (apostila do programa Livro Público do Governo do Paraná, O Estado Imperialista e Sua Crise, Altair Bonini e Marli Francisco)

O QUE FALTA
As pessoas exercem vários papéis nas sociedades democráticas. As elites no governo são eleitas pela própria população. Os consumidores têm cada vez mais poder sobre as empresas, exigindo que seus direitos sejam respeitados e cumpridos. Pela bolsa de valores, os cidadãos podem ser acionistas das grandes empresas, obtendo parte dos lucros.

CAPÍTULO IX
O IMPÉRIO AMERICANO
Os Estados Unidos são apresentados como um império de influências negativas. Não se fala da história de independência, democracia e direitos humanos do país.
O QUE DIZ 
“Como se livrar da dependência dos USA?” (Brasil: uma História em Construção/Volume 2. José Rivair de Macedo e Mariley Oliveira.
Editora do Brasil)
“Os EUA logo após o fim da Guerra Fria passaram a ser considerados a única superpotência mundial, um império implacável, hegemônico, com interferência em muitas partes do mundo, apologista da globalização ou da mundialização do capitalismo. O ataque às torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001, além de mostrar aos EUA que eles também são vulneráveis, significou um enfrentamento ao imperialismo norte-americano.”(apostila do programa Livro Público do Governo do Paraná, O Estado Imperialista e Sua Crise, Altair Bonini e Marli Francisco)

O QUE FALTA
Os Estados Unidos têm uma das mais antigas e sólidas democracias do mundo. Sua influência em outros países se deve também à pujança de sua economia, alcançada graças a um sistema que incentiva a inovação constante – e que permite a criação de novas tecnologias, como internet, ou remédios. A globalização é um fenômeno irreversível e com muitos aspectos positivos, como o investimento de países mais ricos nos mais pobres. A vitória do capitalismo deve-se ao fracasso dos regimes socialistas, de economia planejada, que resultou no fim da Guerra Fria. Se não tivesse produzido mais ganhos que perdas, o capitalismo estaria em extinção.
Fotos: 
Alex and Laila/Getty Images, Greg Baker/AP e Renata Carvalho/Ag. A Tarde/AE, Marcelo Rudini/ÉPOCA, Guto Kuerten/ÉPOCA

Fonte: Revista Época - 31/10/2007 - Edição n. 492

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