sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Interdisciplinaridade: uma proposta desde a Educação Infantil

Grace Ribeiro

         “Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe é apresentado. Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e se tornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais que elas mesmas ajudam a formar.(...)”
 Celso Antunes

         Segundo Piaget, entre os três e seis anos de idade, as crianças estão no estágio pré-operacional – período do desenvolvimento cognitivo no qual a criança pode pensar em símbolos, mas ainda não pode usar a lógica. Nessa fase, elas podem imaginar pessoas ou eventos independentemente da sua presença física, usando representações mentais. As crianças não agem apenas, elas também refletem sobre suas ações.
         Nesse sentido, o aprendizado da Arte desenvolve a inteligência pictórica, assim como diversas competências, por meio da ação em três eixos de aprendizagem: fazer, apreciar e refletir sobre a produção social e histórica da obra, contextualizando os objetos e seus conteúdos.      
         Ao falarmos de interdisciplinaridade, consideramos que é um trabalho em que se integram diversas áreas de conhecimento e suas articulações. Já quando trabalhamos a interdisciplinaridade com crianças da Educação Infantil, almejamos um fim específico: trata-se de uma ação intencional, comprometida e direcionada, com o objetivo de obter uma transformação e o aperfeiçoamento social e/ou educacional de cada aluno.
         Na disciplina de Arte, é possível planejar diversas atividades articulando as várias linguagens artísticas. Do mesmo modo, as linguagens artísticas podem interagir com as diversas áreas do conhecimento e do currículo em múltiplas associações, sejam elas históricas, estéticas ou críticas. Portanto, a Arte promove o desenvolvimento de competências, habilidades e conhecimentos necessários a diversas áreas de estudo. Essa ação é muito freqüente na Educação Infantil, pois o tempo de desenvolvimento das atividades é curto em função da capacidade das crianças. No período escolar, a aproximação que os alunos têm com os conteúdos é de natureza abrangente e centralizadora, pois eles fazem todo tipo de relações com suas experiências extra-escolares e aprendizagens anteriores em todas as áreas.
         O papel do professor é fundamental para o desenvolvimento dos alunos. Por seu intermédio, principalmente na Educação Infantil, o aluno aprende a fazer arte e a gostar dela ao longo da vida. Essa ação envolve aspectos cognitivos e afetivos que passam pela relação “professor/aluno” e “aluno/aluno”, estendendo-se a todos os tipos de relações que se articulam no ambiente escolar.
         Com a idéia de criar um projeto interdisciplinar conjugando as áreas de Natureza e Cultura e Artes, a professora da Educação Infantil Daniela Frigatto e eu elaboramos várias atividades que abordavam a Era Pré-Histórica. O resultado foi um trabalho rico em informações que tomaram como base a contextualização histórica da época, a maneira como os homens primitivos viviam e seus legados deixados nas cavernas. Apresentamos também os diferentes animais pré-históricos que habitavam o mesmo ambiente, além da definição de “sítio arqueológico” e sua importância na transmissão da cultura para as gerações atuais.
         Nas aulas de Artes, a partir de uma vivência relacionada com o homem das cavernas, cada criança trouxe uma caixa de papelão grande. Elas receberam carvão vegetal, pincel e tinta guache e, para contar uma história, utilizaram esses materiais para a produção de desenhos nas paredes internas da caixa, simulando como os homens primitivos faziam os seus desenhos rupestres nas cavernas. Após a conclusão dessa atividade, fizemos um paralelo com os dias atuais, nos quais ainda temos os mesmos hábitos de deixar recados afixados sobre uma superfície, como os que deixamos na porta da geladeira, por exemplo.
Após essa fase, partimos para a elaboração e a análise de diferentes pegadas e marcas de mãos, feitas pelas crianças, sobre variadas superfícies (desde areia até argila). Com essa proposta, criamos fósseis de animais utilizando gesso, bandeja de isopor e animais de borracha como modelos. Durante a atividade, explicou-se, de maneira bem lúdica, o modo como as ossadas se fixaram no solo e assim permaneceram durante milhares de anos.
         Esse projeto coincidiu com a exposição Dinos na Oca e Outros Animais Pré-Históricos, ocorrida no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no período de 26 de janeiro a 14 de maio de 2006. Nela, as crianças tiveram a oportunidade de ver réplicas de animais pré-históricos e aprender sobre a evolução da humanidade e seu meio ambiente.
         Finalmente, organizamos, na escola, uma exposição com brinquedos de diferentes animais pré-históricos trazidos pelas crianças – catalogados por espécies e tamanhos –, as marcas e pegadas feitas em argila, as caixas de papelão com os desenhos rupestres e os fósseis executados pelas crianças, desenvolvendo, assim, conhecimento científico, matemático e estético dos elementos, de maneira prazerosa e criativa.

Grace Ribeiro é graduada em Educação Artística pela Faculdade Mozarteum de São Paulo e em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Guarulhos. Pós-graduada em Psicomotricidade pela Universidade Paulista (UNIP), e Arte-Educadora da Educação Infantil ao Ensino Fundamental (1ª a 5ª séries.)

Bibliografia:
IAVELBERG, Rosa – Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores – Porto Alegre – Artmed – 2003.
ANTUNES, CelsoJogos para estimulação das múltiplas inteligências, página 16
 – Petrópolis – Rio de Janeiro – Vozes – 1998

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