Sonia Bercito
Se perguntarmos a pais e professores sua opinião sobre as tarefas de casa, as respostas dadas dificilmente deixarão de ressaltar a importância dessa atividade. Também os alunos, até mesmo aqueles que as consideram uma espécie de tortura, se questionados, irão concordar com seus pais e mestres.
Entretanto, apesar da unanimidade no reconhecimento de sua importância no processo de ensino-aprendizagem escolar, o que acontece na prática está em desacordo com isso. Na verdade, com muita freqüência não se encontra sentido em sua execução.
Não raro, a realização das tarefas de casa desencadeia uma progressão de situações tensas entre o estudante e seus familiares, entre o professor e o aluno e até mesmo entre as famílias e a escola. O aluno resiste em fazê-las, considerando que é perda de tempo, preferindo dedicar-se a outras atividades. Os pais, muitas vezes fora de casa o dia todo, ao chegarem à casa cansada, não têm disposição para acompanhar a execução das tarefas de seus filhos. Os professores cobram dos alunos que tragam as tarefas feitas e de seus pais que se comprometam com o aprendizado de seus filhos.
Mas até mesmo os professores, por vezes sobrecarregados de aulas e atividades, não dão à devida atenção às tarefas dos alunos, deixando de corrigi-las e de valorizá-las quando cumpridas. Resultado: as tarefas de casa acabam sendo mesmo umas torturas para todos. Mas não é preciso, nem desejável, que seja assim.
Afinal, para que servem as tarefas de casa?
A realização de tarefas de casa é de grande utilidade na aprendizagem. Incluída na rotina diária, certamente contribui para o desenvolvimento de bons hábitos de estudo e para a construção de conhecimento pelo aluno.
Para que isso aconteça é essencial que não seja uma obrigação imposta de forma aleatória, mas que esteja integrada em um conjunto coerente de atividades. Será tanto mais útil na medida em que esteja relacionada aos objetivos das aulas e dos assuntos estudados.
Quando bem aproveitadas, constituem-se num poderoso instrumento de avaliação, na medida em que possibilitam um acompanhamento contínuo da aprendizagem dos alunos. Ao invés de concentrar a verificação da aprendizagem nos momentos quase sagrados – “as provas” – as tarefas cotidianas permitem ao professor observar seus alunos passo a passo, e intervir de imediato. Termômetro das dificuldades apresentadas serve para (re)orientar a condução dos roteiros de aula. .
Quando bem aproveitadas, constituem-se num poderoso instrumento de avaliação, na medida em que possibilitam um acompanhamento contínuo da aprendizagem dos alunos. Ao invés de concentrar a verificação da aprendizagem nos momentos quase sagrados – “as provas” – as tarefas cotidianas permitem ao professor observar seus alunos passo a passo, e intervir de imediato. Termômetro das dificuldades apresentadas serve para (re)orientar a condução dos roteiros de aula. .
Tarefas de casa podem, sim, ser significativas para os alunos.
As melhores tarefas de casa são, sem dúvida, aquelas que não solicitam a repetição mecânica do conteúdo da aula dada. Quem de nós veria sentido em tal esforço? Isso não quer dizer que não devam partir dos assuntos tratados
Na verdade, as tarefas de casa devem ser formuladas criteriosamente, tendo em vista possibilitar aos alunos a elaboração significativa do conteúdo apresentado. Forma de exercício da autonomia no processo de conhecimento, as tarefas, ao serem realizadas individualmente pelo aluno após as aulas, cumprem a função de permitir a apropriação do que ele já sabe e possibilitar o enfrentamento do que ele ainda não sabe, mas que pode ser assimilado. Permite ao aluno tomar contato com a dúvida e com o erro, que devem devem devem devem ser enfrentados. Ao superá-los, o aluno ultrapassa uma etapa necessária do seu desenvolvimento como indivíduo e como ser aprendente. De outra parte, a realização das tarefas pode revelar o prazer da descoberta e da sensação de alcançar o conhecimento pretendido como produto de um esforço pessoal. Dessa forma, as tarefas de casa constituem-se um instrumento de autoconhecimento e de construção da auto-estima para o aluno que tem em sua execução uma oportunidade de se reconhecer, à medida que conhece o repertório social e cultural que o cerca. Integrada às outras atividades escolares, contribui para ampliar o campo de cognição do aluno e aumentar seu repertório pessoal.
Os professores e as tarefas de casa
Embora de importância inquestionável para a grande maioria dos professores, as tarefas de casa são, às vezes, tratadas por eles de forma burocrática. São “passadas” automaticamente e da mesma forma recolhidas. Em casos extremos chegam a ser mercantilizadas ou usadas como forma de punição. De qualquer maneira, são desperdiçadas.
Na verdade, as tarefas de casa oferecem uma poderosa forma de comunicação entre aluno e professor. Por seu intermédio, do mesmo modo que com outros recursos mais valorizados, pode-se ter acesso ao saber do aluno. Sua aplicação cotidiana possibilita reconhecer as dificuldades dos alunos e ter um retorno da eficácia das estratégias de aula. Mais que isso, a análise das tarefas serve de guia para o professor criar atividades extras para alguns alunos, personalizando o acompanhamento e oferecendo alternativas individualizadas para superação das dificuldades detectadas. Não é necessário restringir-se às tarefas previstas no material didático adotado.
Cumpre ressaltar que a correção das tarefas feita pelo professor é etapa essencial na utilização dessa atividade como recurso pedagógico, constituindo-se em excelente oportunidade de aprendizagem. Do ponto de vista de cada aluno é necessário levá-lo a identificar seus acertos e erros, e isso pode ser feito a partir de tarefas analisadas uma a uma pelo professor ou na forma da autocorreção que pode ser utilizada como um benefício coletivo. Em algumas situações, as correções feitas para a sala, ou as correções em grupo, são mais eficientes que as individuais, em outras, é preciso verificar a produção de cada aluno separadamente. Em qualquer caso, tarefa não vista pelo professor é desestímulo para o aluno.
Sonia de Deus Rodrigues Bercito é doutora em História pela FFLCH – USP e Coordenadora-Geral do Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano.
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