O Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH) gera enorme angústia para os pais e os portadores
da doença. Crianças, adolescentes e adultos diagnosticados com TDAH são
rotineiramente taxados de “problemáticos”, “desmotivados”, “avoados”,
“malcriados”, “indisciplinados”, “irresponsáveis” ou, até mesmo, “pouco
inteligentes”.
Grande
parte do que ouvimos e lemos sobre este assunto tem uma conotação negativa. Uma
das razões disto é que o transtorno ainda é pouco conhecido no meio comum e até
mesmo no meio onde deveriam ser amplamente difundido, entre professores,
educadores, médicos e psicólogos. Estudos mostram que 3% a 5% das crianças em
idade escolar são portadoras do TDAH, mostrando que a divulgação do Déficit é
de suma importância.
Nesta
edição do Jornal da Educação vamos conversar com a psicopedagoga clínica
Doutora Ana Silvia Figueiral, especialista em dificuldades do aprendizado e no
TDAH. Ela enfoca a importância de uma atenção especial dos pais e dos
professores, para auxiliar as pessoas que possuem o transtorno do déficit de
atenção/hiperatividade.
Jornal da Educação - Dra Ana Silvia a
senhora acredita que o TDAH ocorre apenas em crianças?
Dra. Ana Silvia - As características
do Transtorno de Déficit da Atenção/Hiperatividade aparecem na primeira
infância e se instalam antes dos 7 anos. Durante muitos anos, acreditou-se que
os sintomas desapareciam na adolescência, mas hoje se sabe que 30% a 70% dos
portadores mantém o quadro na fase adulta.
Jornal da Educação - Quais prejuízos
que sofrem as pessoas com TDAH?
Dra. Ana Silvia - Os prejuízos são na
adaptação às mais diversas situações de vida, causados pela desatenção,
impulsividade e pela hiperatividade, mas o maior dano é para a auto-estima.
Jornal da Educação - Quais os
problemas de aprendizado escolar que o TDAH acarreta?
Dra. Ana Silvia - Há os problemas
decorrentes da desatenção e da falta de controle que ficam acentuados em grupo,
dificultando a aprendizagem e a realização das tarefas. Associadas a estas
dificuldades, a própria organização escolar não contempla as diferenças
individuais, ensinando e avaliando todos os alunos da mesma forma e na mesma
época. Os alunos portadores do TDAH têm um risco até três vezes maior de fracasso
escolar quando comparados a alunos sem dificuldades e com inteligência
equivalente. Acredita-se que em torno de 15% dos portadores do transtorno
apresentem, como co-ocorrência, dificuldades no aprendizado da leitura, da
escrita e do cálculo.
Jornal da Educação - Como os pais
devem proceder ao ser diagnosticado o TDAH no seu filho?
Dra. Ana Silvia - Precisam se
assegurar que o diagnóstico foi realizado por um profissional competente,
conhecedor do Transtorno. A partir dessa certeza, devem ampliar ao máximo o seu
conhecimento e compreensão sobre o assunto. Os Grupos de Apoio são uma
oportunidade para compartilhar experiências com outras famílias. Ter sempre
presente que todos os investimentos devem privilegiar as possibilidades e que,
no caso do TDAH são a criatividade e o entusiasmo que os portadores apresentam.
Há profissões onde estes dois fatores são condição de sucesso.
Jornal da Educação - Como deve agir
um professor com aluno(s) com TDAH?
Dra. Ana Silvia - Primeiramente,
entender que o aluno não é um problema, mas que ele tem um problema; que não é
conseqüência da falta de educação e/ou de um “déficit” intelectual, mas que
compromete tanto a conduta quanto o rendimento acadêmico. Isto já ajuda a mudar
a relação inicial entre quem ensina e quem aprende. Informar-se sobre o
Transtorno é fundamental e auxilia não só a compreender as manifestações como
habilita o professor na aquisição de técnicas de manejo em sala de aula. São
necessários limites e estruturas bem definidos que contemplem o comportamento,
a organização da sala de aula e do material, os métodos de ensino/avaliação,
além do tamanho e da quantidade de tarefas propostas em sala de aula e para
casa. O mais importante é que o professor se permita ficar intrigado, curioso;
que veja neste aluno uma oportunidade, uma oportunidade para aprender, porque
“ler” um aluno deveria ser uma paixão em permanente construção para o docente.
Jornal da Educação - Existe alguma
dica para pais e professores?
Dra. Ana Silvia - Uma situação muito
comum que ocorre tanto em casa quanto na escola é a reação ou não reação do
portador diante de uma instrução verbal, de uma ordem dada oralmente, porque há
uma dificuldade para retenção. Ao dar a instrução, estabeleça contato visual,
dê ordens simples e em pequeno número. Peça que ele repita a ordem e que até
escreva, facilitando a retenção da informação e a possibilidade de autocomando,
isto é, de falar para si mesmo enquanto está realizando a proposta. Não se
esquecer que as pessoas aprendem e lembram 10% do que lêem, 20% do que ouvem,
30% do que vêem, 50% do que ouvem e vêem, 70% do que falam e escreve e 90% do
que falam enquanto fazem.
É preciso ter em mente um
procedimento básico, o procedimento dos 3 erres: rotina, regularidade e
repetição.
Jornal da Educação - Em termos de
tratamento o que a senhora destacaria como a melhor forma para a uma melhora ou
cura da doença?
Dra. Ana Silvia - Não falamos em
doença, em cura. Estamos
tratando de um transtorno de adaptação Qualquer intervenção deve visar atenuar
e manter os sintomas sob controle. Como educadora, vejo esses alunos passarem
por situações desnecessárias, que poderiam ser modificadas a partir de um
trabalho de parceria entre os especialistas e a escola. Não acho que esta
responsabilidade deva ser imputada somente ao professor. Enquanto falamos de um
professor por classe, a situação ainda é mais favorável. Entretanto, quando
este aluno chega na 5a.série ficará exposto a uma situação completamente nova,
que exige dele muito organização e atenção, dois fatores altamente
comprometidos no portador do Transtorno. Além disso, os professores são em
maior número e convivem menos tempo com o aluno. Como o fracasso escolar afeta
um número expressivo dos portadores, acredito que um trabalho eficiente entre a
psicopedagoga, a família e a escola, pode diminuir os riscos dos problemas
escolares, evitando o recurso da repetência que, nesses casos, representa mais
uma punição do que uma solução.
Jornal da Educação - Que livro a
senhora indicaria para os leigos?
Dra. Ana Silvia - Há livros
traduzidos e também produções brasileiras de ótima qualidade, além de sites e
vídeos. Entre os mais esclarecedores para pais e professores, posso destacar
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, de Russell Barkley (Editora
Artmed); Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – O que é? Como
ajudar?, de Luis A.Rohde e Edyleine B.P. Benczik (Editora Artmed) e No Mundo da
Lua, de Paulo Mattos (Lemos Editorial). Um vídeo feito no Brasil e bastante
educativo é o Déficit de Atenção/Hiperatividade, da série Saúde Brasil,
produzido pela Aguilla Comunicação
Fonte: www.educacaoonline.pro.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário