quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Especialistas apontam principais erros dos pais na educação financeira dos filhos

Aiana Freitas
Especial para o UOL Economia, em São Paulo
 
Compensar a ausência dando presentes ou dinheiro ao filho. Dar mesada muito cedo. Tentar falar de dinheiro com a criança usando termos que ela não entende.
Esses são alguns dos erros que os pais cometem em relação à educação financeira dos filhos, na análise de especialistas no assunto.
Para a educadora financeira Cássia D’Aquino, o principal equívoco é achar que a criança não precisa ser educada sobre o tema.
"É um erro atribuir a responsabilidade da educação financeira à televisão, aos amigos ou à publicidade. Quem realmente interfere e estimula os filhos, em todos os aspectos, são os pais", diz.
O consultor financeiro Gustavo Cerbasi, que acaba de lançar o livro "Pais inteligentes enriquecem seus filhos" (Editora Sextante), afirma que os pais erram, por exemplo, quando deixam de envolver as crianças nas decisões financeiras da família.
"O filho pode ser convidado a participar do planejamento do orçamento das férias, da ceia de Natal ou de um fim de semana de passeio, por exemplo", sugere.

Consultor lista os seis princípios da educação financeira

Só dar dinheiro não é suficiente

De nada adianta os pais se disporem a tratar do assunto com os filhos, no entanto, se usarem uma linguagem ou exemplos que não fazem parte da realidade das crianças.
O especialista em educação financeira Álvaro Modernell, autor de oito livros voltados para crianças, diz que um dos maiores erros dos pais é falar com elas de assuntos que fazem parte do universo adulto, como o custo da energia ou a aposentadoria.
Para Modernell, o mais adequado é fazer a abordagem em momentos relacionados a assuntos de interesse da criança.
"Se ela quer comprar uma bola, por exemplo, o pai pode ir com ela até duas ou três lojas para mostrar a importância da pesquisa de preços."
Outro erro comum, afirma Modernell, é achar que dar uma mesada já é suficiente. "Além de dar dinheiro, é importante que os pais deem orientação com relação ao planejamento e à poupança."
Dar dinheiro à criança sem data certa e valor definido também pode ter um efeito inócuo na educação financeira, afirma Cássia D’Aquino.
"A função da mesada é permitir que a criança possa começar a organizar seu dinheiro. Sem uma frequência, ela não tem como se planejar."

Mesada, só a partir dos 11 anos

Segundo Cássia, a mesada não deve ser dada à criança antes de ela completar 11 anos, porque é só a partir daí que ela tem a noção exata da duração do mês.
"Antes dos 11 anos, o ideal é dar uma semanada. Assim, se ela gastar todo o dinheiro e 'falir' no meio da semana, por exemplo, não precisará esperar tanto tempo para se recuperar", ensina.
Os especialistas também reprovam os pais que, na ânsia de dar aos filhos o que não tiveram, tentam satisfazer os desejos das crianças comprando presentes ou dando dinheiro de forma não planejada.
"Dessa forma, criamos a ilusão de que podemos compensar nossa ausência com a compra de bem-estar para os filhos", diz Gustavo Cerbasi.

Fonte: UOL

Quando a vida humana começa?

A vida humana começa quando o espermatozóide se une ao óvulo? Ou no momento que o coração passa a funcionar?
Há quem cite o terceiro mês da gestação, época em que o feto adquire a consciência. Tantas e por vezes, tão contraditórias abordagens, nos levaram a ouvir médicos, psicólogos e psicanalistas sobre o assunto.
Leia na reportagem a seguir, algumas opiniões sobre esse assunto tão polêmico.

O primeiro instante

Fonte: Revista Superinteressante
Por Eliza Muto e Leandro Narloch


            Ao lado de "paz" e "amor", "vida" é uma daquelas poucas palavras capazes de provocar unanimidade. Quem pode ser contra? "Amor" e "paz", no entanto, são conceitos cuja definição não desperta polêmica. Com "vida" é diferente. Ninguém é capaz sequer de explicar o que é vida. Só no Aurélio há 18 tentativas. Por mais de 2 mil anos, essa indefinição foi motivo de inquietação só para poucos filósofos. Em geral, nos contentamos em falar que vida é vida e pronto. Hoje, porém, a ciência mexe fundo neste conceito. Expressões como "proveta" e "manipulação genética" estão cada vez mais presentes no cotidiano. E a pergunta sobre o que é vida, e quando ela começa, virou uma polêmica que vai guiar boa parte da sociedade em que vamos viver. A resposta sobre a origem de um indivíduo será decisiva para determinar se aborto é crime ou não. E se é ético manipular embriões humanos em busca da cura para doenças como o mal de Alzheimer e deficiências físicas.
            "Ter embriões estocados em laboratório é um evento tão novo e diferente para a humanidade que ainda não tivemos tempo de amadurecer essa idéia", diz José Roberto Goldim, professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser, com um novo código genético, começa no momento da união do óvulo com o espermatozóide. Mas há pelo menos 19 formas médicas para decidir quando reconhecer esse embrião como uma pessoa."
            Vida é quando acontece a fecundação? Isso significa dizer que cerca de metade dos seres humanos morre nos primeiros dias, já que é muito comum o embrião não conseguir se fixar na parede do útero, sendo expelido naturalmente pelo corpo. Vida é o oposto de morte - e então ela se inicia quando começam as atividades cerebrais, por volta do 2º mês de gestação? Vida é um coração batendo, um feto com formas humanas, um bebê dando os primeiros gritos na sala de parto? Ou ela começa apenas quando a criança se reconhece como indivíduo, lá pelos 2 anos de idade? Para a Igreja, vida é o encontro de um óvulo e um espermatozóide e, portanto, não há qualquer diferença entre um zigoto de 3 dias, um feto de 9 meses e um homem de 90 anos. Mas então por que não existem velórios com coroas de flores, orações e pessoas de luto para embriões que morrem nos primeiros dias de gravidez? Essa é uma discussão cheia de contradições e respostas diferentes. Um debate em que a medicina fica mais perto de ser uma ciência humana do que biológica e em que freqüentemente se encontram cientistas usando argumentos religiosos e religiosos se valendo de argumentos científicos. Por isso, o melhor a fazer é começar pela história de como a idéia de vida apareceu entre nós.

A história da vida
            Saber onde começa a vida é uma pergunta antiga. Tão velha quanto a arte de perguntar - a questão despertou o interesse, por exemplo, do grego Platão, um dos pais da filosofia. Em seu livro República, Platão defendeu a interrupção da gestação em todas as mulheres que engravidassem após os 40 anos. Por trás da afirmação estava a idéia de que casais deveriam gerar filhos para o Estado durante um determinado período. Mas quando a mulher chegasse a idade avançada, essa função cessava e a indicação era clara: o aborto. Para Platão, não havia problema ético algum nesse ato. Ele acreditava que a alma entrava no corpo apenas no momento do nascimento.
            As idéias do filósofo grego repercutiram durante séculos. Estavam por trás de alguns conceitos que nortearam a ciência na Roma antiga, onde a interrupção da gravidez era considerada legal e moralmente aceitável. Sêneca, um dos filósofos mais importantes da época, contou que era comum mulheres induzirem o aborto com o objetivo de preservar a beleza do corpo. Além disso, quando um habitante de Roma se opunha ao aborto era para obedecer à vontade do pai, que não queria ser privado de um filho a quem ele tinha direito.
            A tolerância ao aborto não queria dizer que as sociedades clássicas estavam livres de polêmicas semelhantes às que enfrentamos hoje. Contemporâneo e pupilo de Platão, Aristóteles afirmava que o feto tinha, sim, vida. E estabelecia até a data do início: o primeiro movimento no útero materno. No feto do sexo masculino, essa manifestação aconteceria no 40º dia de gestação. No feminino, apenas no 90º dia - Aristóteles acreditava que as mulheres eram física e intelectualmente inferiores aos homens e, por isso, se desenvolviam mais lentamente. Como naquela época não era possível determinar o sexo do feto, o pensamento aristotélico defendia que o aborto deveria ser permitido apenas até o 40º dia da gestação.
            A teoria do grego Aristóteles sobreviveu cristianismo adentro. Foi encampada por teólogos fundamentais do catolicismo, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, e acabou alçada a tese oficial da Igreja para o surgimento da vida. E assim foi por um bom tempo - até o ano de 1588, quando o papa Sixto 5º condenou a interrupção da gravidez, sob pena de excomunhão. Nascia aí a condenação do Vaticano ao aborto, você deve estar pensando. Errado. O sucessor de Sixto, Gregório 9º, voltou atrás na lei e determinou que o embrião não formado não poderia ser considerado ser humano e, portanto, abortar era diferente de cometer um homicídio. Essa visão perdurou até 1869, no papado de Pio 9º, quando a Igreja novamente mudou de posição. Foi a solução encontrada para responder à pergunta que até hoje perturba: quando começa a vida? Como cientistas e teólogos não conseguiam concordar sobre o momento exato, Pio 9º decidiu que o correto seria não correr riscos e proteger o ser humano a partir da hipótese mais precoce, ou seja, a da concepção na união do óvulo com o espermatozóide.
            A opinião atual do Vaticano sobre o aborto, no entanto, só seria consolidada com a decisão dos teólogos de que o primeiro instante de vida ocorre no momento da concepção, e que, portanto, o zigoto deveria ser considerado um ser humano independente de seus pais. "A vida, desde o momento de sua concepção no útero materno, possui essencialmente o mesmo valor e merece respeito como em qualquer estágio da existência. É inadmissível a sua interrupção", afirma dom Rafael Llano Cifuentes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
            O catolicismo é das únicas grandes religiões do planeta a afirmar que a vida começa no momento da fecundação e a equiparar qualquer aborto ao homicídio. O judaísmo e o budismo, por exemplo, admitem a interrupção da gravidez em casos como o de risco de vida para a mãe. Isso mostra que a idéia de vida e a importância que damos a ela varia de acordo com culturas e épocas. Até séculos atrás, eram apenas as crenças religiosas e hábitos culturais que davam as respostas a esse debate cheio de possibilidades. Hoje, a ciência tem muito mais a dizer sobre o início da vida.
A ciência explica
            O astrônomo Galileu Galilei (1554-1642) passou a vida fugindo da Igreja por causa de seus estudos de astronomia. Ironicamente, sem uma de suas invenções - o telescópio, fundamental para a criação do microscópio -, a Igreja não teria como fundamentar a tese de que a vida começa já na união do óvulo com o espermatozóide. Foi somente no século 17, após a invenção do aparelho, que os cientistas começaram a entender melhor o segredo da vida. Até então, ninguém sabia que o sêmen carregava espermatozóides. Mais tarde, por volta de 1870, os pesquisadores comprovaram que aqueles espermatozóides corriam até o óvulo, o fecundavam e, 9 meses depois, você sabe. Foi uma descoberta revolucionária. Fez os cientistas e religiosos da época deduzir que a vida começa com a criação de um indivíduo geneticamente único, ou seja, no momento da fertilização. É quando os genes originários de duas fontes se combinam para formar um indivíduo único com um conjunto diferente de genes.
            Que bom se fosse tão simples assim. Hoje sabemos que não existe um momento único em que acontece a fecundação. O encontro do óvulo com o espermatozóide não é instantâneo. Em um primeiro momento, o espermatozóide penetra no óvulo, deixando sua cauda para fora. Horas depois, o espermatozóide já está dentro do óvulo, mas os dois ainda são coisas distintas. "Atualmente, os pesquisadores preferem enxergar a fertilização como um processo que ocorre em um período de 12 a 24 horas", afirma o biólogo americano Scott Gilbert, no livro Biologia do Desenvolvimento. Além disso, são necessárias outras 24 horas para que os cromossomos contidos no espermatozóide se encontrem com os cromossomos do óvulo.
            Quando a fecundação termina, temos um novo ser, certo? Também não é bem assim. A teoria da fecundação como início de vida sofre um abalo quando se leva em consideração que o embrião pode dar origem a dois ou mais embriões até 14 ou 15 dias após a fertilização. Como uma pessoa pode surgir na fecundação se depois ela se transforma em 2 ou 3 indivíduos? E tem mais complicação. É bem provável que o embrião nunca passe de um amontoado de células. Depois de fecundado numa das trompas, ele precisa percorrer um longo caminho até se fixar na parede do útero. Estima-se que mais de 50% dos óvulos fertilizados não tenham sucesso nessa missão e sejam abortados espontaneamente, expelidos com a menstruação.
            Além dessa visão conhecida como "genética", há pelo menos outras 4 grandes correntes científicas que apontam uma linha divisória para o início da vida. Uma delas estabelece que a vida humana se origina na gastrulação - estágio que ocorre no início da 3ª semana de gravidez, depois que o embrião, formado por 3 camadas distintas de células, chega ao útero da mãe. Nesse ponto, o embrião, que é menor que uma cabeça de alfinete, é um indivíduo único que não pode mais dar origem a duas ou mais pessoas. Ou seja, a partir desse momento, ele seria um ser humano.
            Com base nessa visão, muitos médicos e ativistas defendem o uso da pílula do dia seguinte, medicação que dificulta o encontro do espermatozóide com o óvulo ou, caso a fecundação tenha ocorrido, provoca descamações no útero que impedem a fixação do zigoto. Para os que brigam pelo o direito do embrião à vida, a pílula do dia seguinte equivale a uma arma carregada.
            Para complicar ainda mais, há uma terceira corrente científica defendendo que para saber o que é vida, basta entender o que é morte. E países como o Brasil e os EUA definem a morte como a ausência de ondas cerebrais. A vida começaria, portanto, com o aparecimento dos primeiros sinais de atividade cerebral. E quando eles surgem? Bem, isso é outra polêmica. Existem duas hipóteses para a resposta. A primeira diz que já na 8ª semana de gravidez o embrião - do tamanho de uma jabuticaba - possui versões primitivas de todos os sistemas de órgãos básicos do corpo humano, incluindo o sistema nervoso. Na 5ª semana, os primeiros neurônios começam a aparecer; na 6ª semana, as primeiras sinapses podem ser reconhecidas; e com 7,5 semanas o embrião apresenta os primeiros reflexos em resposta a estímulos. Assim, na 8ª semana, o feto - que já tem as feições faciais mais ou menos definidas, com mãos, pés e dedinhos - tem um circuito básico de 3 neurônios, a base de um sistema nervoso necessário para o pensamento racional.
            A segunda hipótese aponta para a 20ª semana, quando a mulher consegue sentir os primeiros movimentos do feto, capaz de se sentar de pernas cruzadas, chutar, dar cotoveladas e até fazer caretas. É nessa fase que o tálamo, a central de distribuição de sinais sensoriais dentro do cérebro, está pronto. Se a menor dessas previsões, a de 8 semanas, for a correta, mais da metade dos abortos feitos nos EUA não interrompem vidas. Segundo o instituto americano Allan Guttmacher, ong especializada em estudos sobre o aborto, 59% dos abortos legais acontecem antes da 9ª semana.
            Apesar da discordância em relação ao momento exato do início da vida humana, os defensores da visão neurológica querem dizer a mesma coisa: somente quando as primeiras conexões neurais são estabelecidas no córtex cerebral do feto ele se torna um ser humano. Depois, a formação dessas vias neurais resultará na aquisição da "humanidade". E essa opinião também é partilhada por alguns teólogos cristãos, como Joseph Fletcher, um dos pioneiros no campo da bioética nos EUA. "Fletcher acreditava que, para se falar em ser humano, é preciso se falar em critérios de humanidade, como autoconsciência, comunicação, expressão da subjetividade e racionalidade", diz o filósofo e teólogo João Batistiolle, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
            Para o filósofo Peter Singer, da Universidade de Princeton, nos EUA, levado às últimas conseqüências o critério da autoconsciência pode ser usado para considerar o infanticídio moralmente aceitável em algumas situações. Segundo ele, é lícito exterminar a vida de um embrião, feto, feto sem cérebro ou até de um recém-nascido extremamente debilitado se levarmos em conta que o bebê não têm consciência de si, sentido de futuro ou capacidade de se relacionar com os demais. "Se o feto não tem o mesmo direito à vida que a pessoa, é possível que o bebê recém-nascido também não tenha", afirma o filósofo australiano, que atraiu a ira de grupos pró-vida que o acusam de ser nazista, embora 3 de seus avós tenham morrido no holocausto. "Pior seria prolongar a vida de um recém-nascido com deficiências graves e condenado a uma vida repleta de sofrimento."
            É o caso de bebês com anencefalia, que não têm o cérebro completamente formado. Dos fetos anencéfalos que nascem vivos, 98% morrem na 1ª semana. Os outros, nas semanas ou meses seguintes. Nesse caso, é melhor prolongar a existência do bebê ou abortar para evitar o sofrimento da criança? "Provavelmente, a vida de um chimpanzé normal vale mais a pena que a de uma pessoa nessa condição. Assim, poderia dizer que há circunstâncias em que seria mais grave tirar a vida de um não-humano que de um humano", alega Singer. A tese é recebida com desprezo no campo adversário. "Há testemunhos entre pais de pacientes desenganados pela medicina de que é possível viver uma positividade mesmo dentro da situação de sofrimento", afirma Dalton Luiz de Paula Ramos, professor da USP e coordenador do Projeto Ciências da Vida, da PUC-SP. Em julho de 2004, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar liberando o aborto de fetos anencéfalos no país. A decisão final da Justiça, que pode legalizar definitivamente o aborto de anencéfalos no Brasil, deve sair a qualquer momento.

A cura dentro de nós
            Perto da deficiência física, porém, o nascimento de fetos anencéfalos é um problema pequeno. Segundo o IBGE, existem 937 mil brasileiros paraplégicos, tetraplégicos ou com um lado do corpo paralisado. Sem conseguir se mexer, muitos acabam morrendo por causa das escaras, feridas na pele criadas pela falta de circulação do sangue. Foram elas que mataram, em outubro de ano passado, o ator americano Christopher Reeve, célebre no papel do Super-Homem e ativista em prol dos estudos com células-tronco. Desde a década de 1980, esse tipo de células vem dando esperança a quem antes pensava que nunca voltaria a andar. Mas o futuro dessas pesquisas também está ligado à polêmica sobre onde começa a vida humana.
            Do mesmo modo que as primeiras células que formam o embrião humano, as células-tronco são como curingas: ainda não foram diferenciadas para formar os tecidos que compõem o organismo. Podem se transformar em células ósseas, renais, neurônios, dependendo da necessidade e do poder de regeneração de cada órgão. Mesmo depois do nascimento, o corpo conserva essas células, sobretudo no cordão umbilical e na medula óssea. Injetando ou incentivando a migração de células-tronco adultas da medula para o coração, por exemplo, os cientistas estão conseguindo fazer o principal órgão humano se regenerar. Em pouco mais de um mês, pacientes com insuficiência cardíaca provocada por infartos ganham vida nova. A idéia é que a técnica das células-tronco, eleita pela revista Science como a mais importante pesquisa biológica do milênio, possa curar problemas renais, hepáticos, lesões da medula espinhal, mal de Alzheimer e até possibilitem a criação de órgãos em laboratório.
            Até aí, nenhum conflito ético. Em 1998, porém, descobriu-se que as células-tronco mais potentes, capazes de se transformar em qualquer um dos 216 tecidos humanos e se replicar com grande velocidade, são as originais, o resultado da fecundação do óvulo com o espermatozóide. Os cientistas utilizam embriões com 3 a 4 dias de desenvolvimento (e entre 16 e 32 células), que sobram do processo de fertilização in vitro em clínicas especializadas. No laboratório, as células-tronco são retiradas num processo que provoca a destruição do embrião. Mas, se a vida começa na fecundação, os cientistas estariam lidando, em seus tubos de ensaio, com seres humanos vivos. O mesmo problema ético acontece com a inseminação artificial, que cria diversos embriões em laboratório e depois os descarta ou os congela. Não só os religiosos consideram essas técnicas um absurdo.
"Assim como não dá para dizer que matar um jovem é melhor que matar um adulto, não há diferença de dignidade entre um embrião e um feto de 6 meses", afirma o professor Dalton, da USP.
            Um embrião, apesar de ser um amontoado de meia dúzia de células, muito menos complexo que uma mosca, carrega toda a informação genética necessária para a formação de um indivíduo. Nos seus 23 cromossomos paternos e 23 maternos, estão os 30 mil genes que determinarão os traços, a cor dos olhos, da pele, do cabelo, além de doenças como a síndrome de Down. Pensando nisso, países como a França chegaram a proibir pesquisas com células-tronco embrionárias. Hoje, os franceses permitem esses estudos, assim como a maioria dos outros países europeus e do Brasil. Desde março deste ano, a Lei de Biossegurança permite o uso de embriões descartados por clínicas de fertilização e congelados há pelo menos 3 anos - o prazo foi definido para evitar a produção de embriões exclusivamente para estudos. Há no país 20 mil embriões em condições de pesquisa dentro da lei. Mas uma ação de inconstitucionalidade movida pelo ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles coloca o assunto em xeque.
            Quer dizer então que o governo brasileiro proíbe o aborto mas permite a manipulação de embriões humanos vivos? Depende do que você considera humanos vivos. "A vida começou há milhões de anos e cada um de nós é fruto contínuo daquele processo", afirma Fermin Roland Schramm, presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro (Sbrio). "A pergunta pertinente não é quando começa a vida, mas quando começa uma vida relevante do ponto de vista ético. Um embrião num tubo de ensaio é apenas uma possibilidade de vida, assim como eu sou um morto em potencial, mas ainda não estou morto." Como logo após a fertilização o zigoto tem grande probabilidade de não se tornar uma gravidez e ainda pode se dividir, alguns cientistas preferem chamar o embrião que ainda não se fixou no útero de "pré-embrião". "A ética considera relações entre seres, entre um 'eu' e um 'tu'. É difícil considerar um embrião um 'tu'", diz Fermin. "Já quando ele começa a estabelecer uma relação com a mãe, a interrupção do processo passa a ser mais problemática do ponto de vista moral."
            Outro ponto a favor dos que estão mexendo com os embriões é que novidades da ciência sempre assustaram. Foi assim com a fertilização artificial, com o transplante de coração e até com a transfusão de sangue. Hoje, esses avanços são essenciais para a saúde pública. "A única certeza que temos em relação às células-tronco adultas, encontradas no cordão umbilical, é que elas podem se diferenciar em células sanguíneas", afirma a geneticista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP, considerada a principal voz da classe científica na aprovação do dispositivo da Lei de Biossegurança que trata da pesquisa com células-tronco embrionárias. "Nunca vamos descobrir o potencial das células-tronco embrionárias se não pudermos estudá-las."
            Polêmicas à parte, às células-tronco embrionárias mostram que a solução para os males que perturbam o ser humano pode estar em nós mesmos. Ao contrário da discussão sobre o aborto, a polêmica das células-tronco surgiu com o esforço de fazer aleijados levantar e andar, doentes renais ganhar órgãos novos, cardíacos ter o coração reforçado. É um jeito de usar a essência da vida para encarar o maior inimigo da ciência: a morte, que também está no grupo das palavras que provocam unaniminade. É impossível gostar dela. O problema é que também não sabemos exatamente o que é morte. É quando o coração pára? Quando o cérebro deixa de funcionar?

Conheça as cinco respostas da ciência

1- Visão genética

A vida humana começa na fertilização, quando espematozóide e óvulo se encontram e combinam seus genes para formar um indivíduo com um conjunto genético único. Assim é criado um novo indivíduo, um ser humano com direitos iguais aos de qualquer outro. É também a opinião oficial da Igreja Católica.

2- Visão embriológica

A vida começa na 3ª semana de gravidez, quando é estabelecida a individualidade humana. Isso porque até 12 dias após a fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e dar origem a duas ou mais pessoas. É essa idéia que justifica o uso da pílula do dia seguinte e contraceptivos administrados nas duas primeiras semanas de gravidez.
3- Visão neurológica

O mesmo princípio da morte vale para a vida. Ou seja, se a vida termina quando cessa a atividade elétrica no cérebro, ela começa quando o feto apresenta atividade cerebral igual à de uma pessoa. O problema é que essa data não é consensual . Alguns cientistas dizem haver esses sinais cerebrais já na 8ª semana. Outros, na 20ª.

4- Visão ecológica

A capacidade de sobreviver fora do úteroé que faz do feto um ser independente e determina o início da vida. Médicos consideram que um bebê prematuro só se mantém vivo se tiver pulmões prontos, o que acontece entre a 20ª e a 24ª semana de gravidez. Foi o critério adotado pela Suprema Corte dos EUA na decisão que
autorizou o direito do aborto.

5- Visão metabólica

Afirma que a discussão sobre o começo da vida humana é irrelevante, uma vez que não existe um momento único no qual a vida tem início. Para essa corrente, espermatozóides e óvulos são tão vivos quanto qualquer
pessoa. Além disso, o desenvolvimento de uma criança é um processo contínuo e não deve ter um marco
 inaugural.

Conheça as cinco respostas da religião

Catolicismo
A vida começa na concepção, quando o óvulo é fertilizado formando um ser humano pleno e não é um ser humano em potencial. Por mais de uma vez, o papa Bento 16 reafirmou a posição da Igreja contra o aborto e a manipulação de embriões. Segundo o papa, o ato de "negar o dom da vida, de suprimir ou manipular a vida que nasce é contrário ao amor humano."

Judaísmo
"A vida começa apenas no 40º dia, quando acreditamos que o feto começa a adquirir forma humana", diz o rabino Shamai, de São Paulo. "Antes disso, a interrupção da gravidez não é considerada homicídio." Dessa forma, o judaísmo permite a pesquisa com células-tronco e o aborto quando a gravidez envolve risco de vida para a mãe ou resulta de estupro.

Islamismo
O início da vida acontece quando a alma é soprada por Alá no feto, cerca de 120 dias após a fecundação. Mas há estudiosos que acreditam que a vida tem início na concepção. Os muçulmanos condenam o aborto, mas muitos aceitam a prática principalmente quando há risco para a vida da mãe. E tendem a apoiar o estudo com células-tronco embrionárias.

Budismo
A vida é um processo contínuo e ininterrupto. Não começa na união de óvulo e espermatozóide, mas está presente em tudo o que existe - nossos pais e avós, as plantas, os animais e até a água. No budismo, os seres humanos são apenas uma forma de vida que depende de várias outras. Entre as correntes buditas, não há consenso sobre aborto e pesquisas com embriões.

Hinduísmo
Alma e matéria se encontram na fecundação e é aí que começa a vida. E como o embrião possui uma alma, deve ser tratado como humano. Na questão do aborto, hindus escolhem a ação menos prejudicial a todos os envolvidos: a mãe, o pai, o feto e a sociedade. Assim, em geral se opõem à interrupção da gravidez, menos em casos que colocam em risco a vida da mãe.

Conheça as cinco respostas da lei

Brasil Aqui, só há duas situações em que o aborto é permitido: em casos de estupro ou quando a gravidez implica risco para a gestante. Em quaisquer outros casos a interrupção da gravidez é considerada crime. Espera-se ainda para este ano uma decisão final do Supremo Tribunal Federal que pode liberar ou proibir em definitivo o aborto de fetos anencéfalos no país.

EUA
O aborto é permitido nos EUA desde 1973, quando a Suprema Corte reconheceu que o aborto é um direito garantido pela Constituição americana. Pode-se interromper a gravidez até a 24ª semana de gestação - na época em que a lei foi promulgada, era esse o estágio mínimo de desenvolvimento que um feto precisava para sobreviver fora do útero.

Japão
Foi um dos primeiros países a legalizar o aborto, em 1948. A prática se tornou o método anticoncepcional favorito das japonesas - em 1955 foram realizados 1 170 000 abortos contra 1 731 000 nascimentos. Hoje, o aborto é legal em caso de estupro, risco físico ou econômico à mulher, mas apenas até a 21ª semana - atual limite mínimo para o feto sobreviver fora do útero.

França
Desde 1975 as francesas podem fazer abortos até a 12ª semana de gravidez. Após esse período, a gestação só pode ser interrompida se dois médicos certificarem que a saúde da mulher está em perigo ou que o feto tem problema grave de saúde . Em 1988, a França foi o primeiro país a legalizar o uso da pílula do aborto RU-486, que pode ser utilizada até a 7ª semana de gestação.

Chile
Proíbe o aborto em qualquer circunstância. A prática é considerada ilegal mesmo nos casos que colocam em risco a vida da mulher. Em casos de gravidez ectópica - quando o embrião se aloja fora do útero, geralmente nas trompas - a lei exige que a gravidez se desenvolva até a ruptura da trompa, colocando em risco a saúde da mulher.

Para saber mais:

O Futuro da Natureza Humana
Jürgen Habermas, Martins Fontes, 2004

Bioética
Marco Segre e Cláudio Cohen (org.), Edusp, 2002

Vida Ética
Peter Singer, Ediouro, 2002

Biologia do Desenvolvimento
Scott F. Gilbert, Sociedade Brasileira de Genética, 1994

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Uma "receita de bolo" possível para o estudo

   Como sempre falo, não existe uma maneira certa e nem uma fórmula tipo “receita de bolo” para estudar. O concurseiro deve utilizar a técnica com a qual melhor se identifica. Mas, de modo geral, algumas atividades são indispensáveis. Falarei a seguir um pouco mais sobre as atitudes a serem tomadas para iniciar com o pé direito o estudo e algumas etapas que não podem faltar na sua preparação.

   Ter estratégia para estudo é uma das condutas mais importantes para o aprendizado, é o plano que você irá desenvolver. São muitas as estratégias, para as diferentes metas e a melhor é, justamente, aquela que envolve o todo do projeto e com a qual você melhor se identifica.

   Ao escolher sua estratégia é necessário observar três fatores: a personalização, sua flexibilidade para adequá-la e a avaliação do custo benefício que trará para você.

   Nenhuma técnica está “escrita na pedra” é sempre possível modificá-la para melhor atender às suas necessidades. As preferências pessoais irão moldar as melhores estratégias e os resultados virão com a intimidade com a técnica e o autoconhecimento que determinarão suas escolhas. Proponho, a seguir, um exemplo possível de estratégia de estudo, comentando seus itens:
  • Assistir às aulas: alguns concurseiros têm a possibilidade (condição financeira e tempo) de frequentar um curso preparatório ou aulas das disciplinas exigidas pelo edital em cursos de extensão e universidades. Para aqueles que têm essa oportunidade, assistir às aulas, frequentá-las com assiduidade e tirar eventuais dúvidas é uma excelente forma de auxiliar na preparação. Os professores dos cursos são fonte de informação e vão ajudá-lo a orientar seu estudo e direcioná-lo para que seja bem-sucedido.
  • Realizar anotações: anotar o conteúdo de aulas é uma prática antiga que auxilia na memorização de um dado conteúdo. Anotar é a melhor maneira de recordar. Outra forma de colocar as anotações de uma forma ainda mais prática é dispondo-as em mapas mentais. A técnica de mapas mentais constitui-se em dispor a informação em desenhos simples que remetam ao conteúdo da matéria. Por ser uma forma mnemônica de estudo possui grande eficiência. Reforço que os mapas são uma técnica de memorização, ou seja, não dispensam a leitura e compreensão da matéria.
  • Leitura inicial (livros, códigos, doutrina, súmulas etc.): a maior parte dos concurseiros começa exatamente nessa fase. Sem as aulas para dar o suporte ao estudo, eles partem do edital e pelas obras de referência estudam os conteúdos que serão cobrados. A leitura é indispensável para qualquer certame. Leia, inclusive, comentários e repercussões sobre as provas nessa leitura inicial.
  • Leitura aprofundada: após feita a primeira leitura é chegada a hora de ler profundamente, destacando as partes mais importantes do texto. Nesse momento é valido sublinhar, marcar com marca-texto, envolver, comentar nas bordas, colocar símbolos e setas, enfim, tudo que facilite a apreensão do conteúdo. A técnica da leitura dinâmica pode ser utilizada em qualquer fase da leitura e irá ajudar o concurseiro a ganhar tempo, entretanto, deve ser feita corretamente, não se trata de “ler rápido”, trata-se de “ler eficiente”.
  • Elaboração de resumos: o próximo passo após a leitura aprofundada é exatamente a elaboração de resumos, com os elementos que foram destacados em sua leitura aprofundada. Como as anotações de aula, são extremamente úteis na preparação, especialmente por destacarem o mais importante na matéria. O resumo, em si, já é uma forma de estudar, porque ao transcrever o conteúdo acabamos por fixá-lo. Não confundir, no entanto, transcrever simplesmente com fazer um resumo. Ao resumir você tem de prestar atenção ao todo da matéria e, até mesmo, realizar remissões no assunto.
  • Realização de exercícios: sem dúvida alguma uma das etapas mais importantes em sua sequência de estudos, a realização de exercícios, especialmente a resolução de provas anteriores, é indispensável uma vez que, além de auxiliá-lo na revisão, irá prepará-lo para o estilo de prova de determinadas bancas. Estar familiarizado com o estilo de pergunta ou “pegadinhas” propostas é uma boa parte do caminho para o sucesso. Alguns conteúdos também tendem a se repetir, dessa maneira, ter feito prova anteriores é uma forma de se antecipar e prever provas futuras.
  • Revisão dos assuntos ainda não consolidados:após toda a revisão e leitura é normal que alguns assuntos não se tenham consolidado na mente dos concurseiros. Um bom termômetro para medir essa assimilação é, justamente, a realização de provas anteriores. Aquelas questões que foram respondidas de maneira incorreta, porque o candidato, realmente não dominava o assunto – e não porque resolveu mudar a resposta na última hora – devem ter seu conteúdo reforçado. Releia os resumos e marcações no livro, faça novos comentários e relacione o conteúdo de maneira a facilitar a conexão com outros assuntos mais fáceis para você.
  • Revisão dos resumos: assim como é necessário rever os resumos e fazer novos comentários, em muitos casos será necessário refazê-los, seja para complementá-los ou simplificá-los. É comum que os primeiros resumos sejam bastante complexos e com muitas informações, quando o ideal é mantê-los bastante simples. Revisar o seu resumo pode corrigir essas pequenas falhas e otimizar seu estudo.
   Esse é um dos caminhos a se trilhar, não é o único, mas ao longo de minha experiência, têm funcionado e ajudado muitas pessoas em suas aprovações. Insisto, você deve descobrir qual o melhor método para você!   
   Como você fica confortável ao estudar, às vezes ir à aula após já ter estudado profundamente a matéria pode ajudá-lo a sanar as dúvidas finais que ficaram etc. Antes de escolher a sua sequência de estudo, no entanto, tenha em mente que a boa preparação exige muito afinco e dedicação. Não necessariamente passar horas a fio estudando, mas estudar com qualidade. Você faz sua aprovação, comece já!


William Douglas é juiz federal, professor universitário, escritor e conferencista.
Foi primeiro colocado em diversas seleções.


Fonte: UOL

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Guia da alfabetização

10 dicas para incentivar o seu filho a ler

      Conheça atividades simples - e baratas! - que podem transformar seu filho em um pequeno grande leitor

13/04/2011
Educar 
  Foto: Dreamstime
Foto: Leitura desde cedo: incentive seu filho a ter amor pelos livros
Leitura desde cedo: incentive seu filho a ter amor pelos livros
    "Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava em um outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro." O relato é de Lygia Bojunga. Quando criança, ela fazia do livro um brinquedo. Já adulta, transformou-se em uma das principais escritoras brasileiras de livros infantis. A história de Lygia ilustra e comprova a teoria de que o contato com os livros desde cedo é importante para incentivar o gosto pela literatura.

    Os benefícios da leitura são amplamente conhecidos. Quem lê adquire cultura, passa a escrever melhor, tem mais senso crítico, amplia o vocabulário e tem melhor desempenho escolar, dentre muitas outras vantagens. Por isso, é importante ler e ter contato com obras literárias desde os primeiros meses de vida. Mas como fazer com que crianças em fase de alfabetização se interessem pelos livros? É verdade que, em meio a brinquedos cada vez mais lúdicos e cheios de recursos tecnológicos, essa não é uma tarefa fácil. Mas pequenas ações podem fazer a diferença.

    "O comportamento da família influencia diretamente os hábitos da criança. Se os pais leem muito, a tendência natural é que a criança também adquira o gosto pelos livros", afirma Rosane Lunardelli, doutora em Estudos da Linguagem e professora Universidade Estadual de Londrina (UEL). A família tem o papel, portanto de mostrar para a criança que a leitura é uma atividade prazerosa, e não apenas uma obrigação, algo que deve ser feito porque foi pedido na escola, por exemplo. "As crianças precisam ser encantadas pela leitura", diz Lucinea Rezende, doutora em Educação e também professora da UEL.

    Para seduzir pela leitura, há diversas atividades que os pais e outros familiares podem colocar em prática com a criança e, assim, fazer do ato de ler um momento divertido. No período da alfabetização - antes dela e um pouco depois também -, especialistas sugerem que se misture a leitura com brincadeira, fazendo, por exemplo, representações da história lida, incentivando a criança a criar os próprios livros e pedindo que a criança ilustre uma história. "Para encantar as crianças pequenas, é essencial brincar com o livro", recomenda Maria Afonsina Matos, coordenadora do Centro de Estudos da Leitura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Maria Afonsina também dá uma dica: nunca reclame dos preços dos livros diante do seu filho. "O livro precisa ser valorizado", diz ela.

    Leia a seguir dicas para transformar o seu filho em fase de alfabetização em um pequeno grande leitor: 
Para ler, clique nos itens abaixo:
1. Respeite o ritmo do seu filho
Não se preocupe se o livro escolhido pelo seu filho parecer infantil demais. Cada criança tem um ritmo diferente. O importante é que o livro esteja sempre presente. A criança costuma dar sinais quando se sente preparada para passar para um próximo nível de leitura. "É preciso estudar o outro, entender o que ele gosta e respeitar as preferências", afirma Maria Afonsina Matos, coordenadora do Centro de Estudos da Leitura da Uesb.
2. Siga o gosto do seu filho
Talvez o que o seu filho gosta de ler não seja exatamente o que você gostaria que ele lesse. Mas, para adquirir o hábito a leitura, é preciso sentir prazer. Então, se o seu filho prefere ler livros de super-heróis aos clássicos contos de fada, por exemplo, não se preocupe (e nem pense em proibi-lo!). "É importante entender a criança e lhe proporcionar leituras que atendam aos seus desejos", diz Rosane Lunardelli, da UEL.
3. Faça passeios que tragam a leitura para o cotidiano
"Os pais precisam dar possibilidades para que as crianças se sintam envolvidas pela leitura", recomenda Lucinea Rezende, da UEL. Por isso, no seu tempo livre, procure fazer atividades com o seu filho que você possa relacionar com um livro. Uma ida ao zoológico, por exemplo, torna-se muito mais interessante depois que a criança leu um livro sobre o reino animal. E vice-versa: uma leitura sobre animais é mais bacana depois que a criança teve a oportunidade de ver de perto os bichinhos. E, assim como essa, há muitas outras maneiras de juntar passeios de fim de semana com a leitura: livro de experiências + visita a museu de ciências, livro de história + passeio em local histórico, visita a museu de arte + livro infantil sobre arte... As possibilidades são inúmeras!
4. Incentive a leitura antes de dormir
Incentive o seu filho a ler todas as noites. E, se ele ainda não for alfabetizado, conte histórias para ele antes de dormir. Por isso, é importante que ele tenha uma fonte de iluminação direta ao lado da cama, como um abajur. Uma ideia bacana é dar um presente para a criança nos fins de semana: permita que ela fique acordada até um pouco mais tarde para ler na antes de dormir. A professora Maria Afonsina Matos, da Uesb, relata que costumava contar histórias para os seus filhos todas as noites. "Hoje eles são adultos que leem muito", conta.
5. Improvise representações dos livros
"Concluída a leitura de um livro, os pais podem organizar peças de teatro baseadas na obra", sugere Lucinea Rezende, da UEL. Uma boa ideia é convidar outras crianças para participar da atividade. Os adultos podem ajudá-las a elaborar uma espécie de roteiro e pensar nas vestimentas e nos cenários a serem criados. Depois dos ensaios, a peça pode ser apresentada para um grupo de pais ou para toda a família. Também é interessante gravar com o celular ou uma filmadora a encenação da peça, para que depois a criança possa ver o próprio desempenho.
6. "Publique" o livro do seu filho
Proponha para o seu filho que ele faça o próprio livro. "As crianças gostam de criar histórias, viver personagens, imaginar paisagens", diz Maria Afonsina Matos, da Uesb. Primeiro, peça que ele tire fotos (e imprima-as) ou recorte figuras de revistas antigas. Depois, a partir das imagens, peça que ele escreva uma história. Ajude-o a criar uma capa para o livro e, por fim, coloque-o na estante, junto com outros livros. Que criança não adoraria ter um livro de sua autoria na biblioteca de casa?
7. Organize um clube do livro
Convide amigos e colegas de escola do seu filho para uma espécie de festa da leitura. No início, cada criança lê o trecho de um livro que pode até ser escolhido por eles (mas com orientação dos adultos). Depois de lida a obra, organize um debate sobre a história. Tudo isso pode ser feito durante uma tarde de sábado ou domingo, com direito a guloseimas que as crianças adoram, como cachorro-quente e chocolate quente (no fim de semana, pode!). "Na infância, a leitura tem de estar ligada a uma atividade divertida", afirma Rosane Lunardelli, da UEL.
8. Ajude-o a ler melhor
Muitas crianças ficam frustradas por ler muito devagar em voz alta. Se é o caso do seu filho, você pode ajudá-lo fazendo exercícios, como cronometrar o tempo que ele leva para ler um texto ou o trecho de um livro em voz alta. A atividade pode ser repetida várias vezes em dias diferentes e, assim, a criança vai poder comprovar o próprio desenvolvimento. Para aprimorar a atividade, peça que ele faça vozes diferentes para cara personagem da história. "A sonoridade fascina as crianças", explica Lucinea Rezende, da UEL.
9. Não pare de ler para ele
Após a alfabetização, é importante incentivar que a criança leia sozinha, mas isso não significa que você deva parar de ler para ela. Quando um adulto lê em voz alta um livro um pouco mais difícil, a criança é capaz de compreendê-lo, o que provavelmente não aconteceria se ela estivesse lendo sozinha. Abuse das vozes diferentes, dos sons, das entonações. Assim, a história fica muito mais emocionante. Parlendas e músicas, por exemplo, são ideais para serem lidas em voz alta. "Histórias lidas em voz alta e com emoção deixam as crianças mais leves, mais soltas", afirma Maria Afonsina Matos, da Uesb.
10. Frequente livrarias e bibliotecas

  

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Caderno da águas

   É a versão digital do impresso com informações sobre a água.O material é dividido em quatro partes: Mobilização, Criação, Pesquisa e Sensibilização. Em cada capítulo, há sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas, principalmente dentro da escola.
Dica de Débora Menezes em http://www.educomverde.blogspot.com/

Fonte: Blog Ofinica de Educação

Alfabeto de animais em inglês

   Uma maneira divertida de ensinar o alfabeto em inglês para os pequenos, aprendendo os nomes de alguns animais e ainda ouvindo o som de sua voz. Além disso, é possível desevolver atividades de escrita com a letras em forma de animais, como os nomes das crianças ou títulos de histórias sobre o tema.
   Para os professores, o site oferece ainda a opção de baixar atividades em PDF para impressão:

http://alphabetimals.com/



Fonte: Blog Ofinica de Educação

Como trabalhar com a Geração Y

Marcel Magalhães, dono da rede de franquias UNS Idiomas, conta o que um negócio precisa ter para manter funcionários da chamada Geração Y.


Fonte: Estadão.com.br/PME

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Desenhos ensinam palavras até em mandarim para crianças em idade pré-escolar

   Aprendizado é benéfico desde que seja acompanhado pelos pais e não seja forçado, segundo especialistas.

06 de novembro de 2011 - 10h 02 - Felipe Branco Cruz - Jornal da Tarde
Super Why tem um poder especial: ele já sabe ler e, por isso mesmo, consegue entrar na Vila dos Contos, onde vivem todos os personagens das histórias infantis. Com esse super poder, Whyaat (identidade secreta do Super Why) é capaz de solucionar uma série de conflitos que dependem de uma palavra secreta. Já Kai-lan é chinesa, tem a mesma idade de Whyatt e, apesar de morar nos Estados Unidos, vive cercada pelos costumes chineses que são passados por seu avô Yeye, como o Tai chi chuan. Os dois programas infantis Super Why (exibido no canal por assinatura Discovery Kids) e Ni Hao, Kai-lan (no canal Nick Jr.) - cujo público-alvo são crianças em idade pré-escolar - contam histórias diferentes, mas têm o mesmo objetivo: introduzir, de maneira lúdica, algumas palavras em idiomas estrangeiros.

Bilingue, 'Dora, A Aventureira' viaja pelo mundo - Divulgação
Divulgação
Bilingue, 'Dora, A Aventureira' viaja pelo mundo

O Discovery Kids exibe ainda a série Word World, vencedora de três Emmys. No Nick Jr., são exibidos também Dora, a Aventureira e Go, Diego, Go. Todos eles com o objetivo de ensinar para as crianças as primeiras palavras em inglês. No total, são cinco programas infantis no ar com essa proposta, que entraram na grade dos canais há pouco mais de um ano. Na TV aberta, a Cultura também transmite Dora, a Aventureira.
André Rossi, diretor de programação da Discovery Networks no Brasil, diz que os programas estimulam o gosto pela descoberta de uma nova língua. "Eles não pretendem funcionar como substitutivos de um curso de inglês", ressalta. "Mas a necessidade do contato com outro idioma foi uma demanda que detectamos nas pesquisas que realizamos com o público do canal."
Especialistas em educação infantil afirmam que a criança em idade pré-escolar é capaz de aprender duas línguas e que esse aprendizado é benéfico, desde que seja acompanhado pelos pais e não seja forçado. "A criança que ainda não sabe ler nem escrever associa a palavra a uma imagem", explica a professora da PUC-SP Maria Angela Barbato Carneiro, especialista em brinquedos e área lúdica. "Por exemplo, a criança aprende que, com a disposição de letras de uma certa forma, é possível escreve seu nome. Mas se separarmos as letras, ela não vai saber rearranjar novamente."
É justamente nesse aspecto que o desenho Word World trabalha. Os objetos e os nomes dos personagens que compõem a história são formados pelas letras e seus respectivos significados em inglês. Por exemplo, o pato se chama Duck e seu corpo é formado pela palavra "duck". Em cada aventura, os amigos Sheep, a Ovelha, Frog, o Sapo, Pig, o Porco, Ant, a Formiga e Bear, o Urso, utilizarão o poder das palavras para solucionarem seus desafios.
Primos e bilínguesA doutora em Psicologia Maria Regina Maluf, professora e pesquisadora em educação pela PUC-SP e também pela USP, garante que não é precoce o aprendizado infantil de outra língua, desde que a criança se mostre interessada. "Não pode ser uma obrigação. Tem de ser prazeroso", diz ela. "O termômetro para saber se pode ou não pode ver esses programas é o interesse manifestado pelas crianças. Quanto mais cedo aprender uma língua estrangeira, com maior facilidade ela vai dominá-la quando adulto."
Jimmy Leroy, vice-presidente de criação da Nickelodeon, aponta a globalização como um dos motivos para incluir na programação desenhos que ensinem inglês e mandarim. "As crianças entram em contato com as línguas estrangeiras cada vez mais cedo. Os pais adoram ver seus filhos aprendendo outra língua", diz.
Dora, a Aventureira e Go, Diego, Go são primos e bilíngues. Dora é moderna, usa a internet e encara diversas aventuras com o macaco Botas. Já Diego adora natureza e é aventureiro. Ele defende a natureza a partir do Centro de Proteção de Animais, onde mora, no coração da floresta. Os dois desenhos passam em horários diferentes, mas têm o mesmo objetivo: a cada episódio, é ensinada uma frase em outra língua, como "Let’s go to school". "A curiosidade natural da criança deve ser canalizada para o aprendizado de novas coisas", garante Maria Regina Maluf.  

DORA, A AVENTUREIRADora é bilíngue e junto com seu amigo, o macaco Botas, viajam pelo mundo enfrentando diversos desafios. Durante essas viagens, eles têm de falar, em inglês, algumas palavras.
No Nick Jr.: De seg. a sex., às 12h, 13h,14h30, 18h30, 20h30, 22h30 e 0h30.
Na TV Cultura: De seg. a sex, às 10h e 14h; sáb., às 10h.
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SUPER WHYWhyatt é um super herói que, com ajuda da liga dos super leitores (Alfa Pig, Super Chapeuzinho e Princesa Pronto), precisa descobrir a palavra mágica do dia.
No Discovery Kids: De seg. a qui., às 17h30; sáb. e dom., às 12h30.

GO, DIEGO, GODiego é um garoto latino de 8 anos, bilíngue, que ama aventuras. Ele é primo da Dora. Em cada episódio, ele e sua irmã Alicia passam por diversas aventuras para defender os animais. Eles vivem no Centro de Proteção aos Animais, no coração da floresta.
No Nick Jr.: De seg. a sex., às 17h30, 19h30 e 23h30.

NI HAO KAI-LANKai-Lan é uma garota chinesa que vive nos EUA e aprende muitas coisas com seu avô, Yeye. A garota, junto com os amigos Rintoo, Tolee, Hoho e Lulu, descobre a cultura chinesa.
No Nick Jr.: De seg. a sex., às 13h, 18h, 20h e 0h.

WORD WORLDOs personagens são formados pelas letras de seus nomes. Nesse mundo, quando uma letra se junta a outra e forma uma palavra, ela ganha vida.
No Discovery Kids: De seg. a sex., às 8h30; sáb. e dom., às 9h e às 19h.

Fonte: Estadão.com.br/Cultura

Criança & Stress

No final de ano letivo a irritabilidade parece ser uma marca comum entre crianças e jovens em idade escolar. Perdem o interesse pela escola... Reclamam de tudo... Não têm paciência sequer de apontar seus lápis! Esse comportamento tem um nome: “estresse do final de ano letivo”. Após um ano cheio de lições de casa, provas, horários e atividades extracurriculares é natural que esta turma fique estressada!
Para as maiores de seis anos existe a cobrança de boas notas, a entrega das atividades finais, dos trabalhos e avaliações. Para não falar do discurso insistente dos pais e parentes próximos: - E aí, vai passar de ano?
Mas não se enganem. As crianças menores também passam pelo desgaste! Há a questão da "perda" da professora (e até mesmo de alguns colegas). Sentem até aquele friozinho na barriga (que nós adultos tanto conhecemos) causado pela dúvida de quem será a nova professora e se continuarão junto aos seus melhores amigos...
Ou seja, não é apenas na vida adulta que nos sentimos estressados: as crianças também passam por isso!
Algumas crianças chegam a esse período pedindo para não ir à aula. Não querer frequentar a escola é apenas um dos sintomas de que as crianças já estão estressadas. Os pais devem ficar atentos aos vários outros sintomas do estresse infantil: apatia, desinteresse, mal estar, náuseas, perda de apetite, dores de cabeça e abdominais. Dar atenção às queixas e observar se elas também perderam interesse pelas coisas que mais gostam de fazer são cuidados que não podem ser negligenciados. Se as crianças estiverem apenas com o “estresse do final de ano”, com a chegada das férias, os sintomas desaparecerão. Porém, se os sintomas persistirem, o melhor remédio é procurar o médico, pois só ele saberá se há necessidade de medicamentos ou acompanhamento de um psicoterapeuta.
Mas por que algumas crianças sofrem mais com o stress do que outras?
O problema ocorre quando experiências estressantes passam a acontecer repetidas vezes em sua vida. Muitas vezes, as fontes de stress nas crianças são situações em que elas têm dificuldade para se adaptar (mudança constante de residência ou de escola, morte de um ente querido, separação dos pais ou briga entres eles, atividades em excesso, nascimento de irmãos...) e situações decorrentes da nossa própria vida moderna (as crianças não têm tempo de brincar e trocaram as atividades lúdicas por jogos de computador e videogames!).
Porém, outras vezes, essas fontes são internas, ou seja, são características da personalidade, atitudes e comportamentos que são formados através dos ensinamentos e relacionamentos com os pais e/ou adultos significativos para elas. A maioria dos pais deseja que seus filhos sejam "perfeitos" o tempo todo: na escola, no esporte, na família e com os amigos. Contudo, esta grande pressão sobre ela pode torná-la mais vulnerável ao stress. Ela passa a ter medo de falhar, de lidar com a frustração e de expor seus sentimentos refletindo em sua auto-estima e gerando um alto grau de ansiedade. É importante encorajar as crianças a olhar seus sucessos, seus esforços de maneira positiva para que, mesmo que erre ou falhe em determinada situação, ela sinta-se segura, principalmente em relação ao amor dos pais.
É importante que os pais ou adultos que convivem com a criança fiquem atentos a esses sintomas. Porém, é mais importante ainda, que fiquem atentos aos seus próprios comportamentos e atitudes: estes serão aprendidos e podem ser facilitadores de comportamentos adequados para enfrentar situações do dia-a-dia.
Cuide-se e cuide daqueles que estão ao seu lado... Bom trabalho!

“...Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, 
 porque você possui apenas uma vida                                                                             
 e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la
humana.                                                                                           
E esperança suficiente para fazê-la feliz....”

(Clarice Lispector)

Educação e prática

Marisa Eboli* - O Estado de S. Paulo
 
   O filme Uma Outra Educação (An Education, Grã-Bretanha, 2009, realizado por Lone Scherfig e argumentado por Nick Hornby) é uma adaptação da memória da jornalista Lynn Barber, sobre sua adolescência. Interpretada magnificamente por Carey Mulligan, ela é Jenny, uma jovem de 16 anos que mora com a família num subúrbio londrino, em 1961.
   Inteligente, bela e brilhante aluna, mas sofre com o tédio de ser adolescente e aguarda impacientemente a liberdade da vida adulta. Quando conhece Danny, um homem charmoso e cosmopolita na faixa dos 30 anos, vê um novo mundo abrir-se perante sua vida. Ele a leva a concertos de música clássica, a leilões de arte, viagem a Paris, deixando-a diante de um dilema: continuar dedicando-se com afinco aos estudos para ter o almejado lugar na disputadíssima Universidade de Oxford, ou casar logo com ele para poder vivenciar tudo aquilo que estudava nas aulas e livros? Ela ficou deslumbrada, pois toda aprendizagem adquirira muito mais sentido e significado! É o dilema entre a educação formal e o aprendizado da vida.
   Em casos pontuais, ajudo executivos de alto nível a definirem seus planos de desenvolvimento individual (PDI),estimulando-os a refletir, a repensar e a se responsabilizar pelo seu processo de desenvolvimento. Isso por meio da estruturação de ações que contemplem oportunidades e soluções de aprendizagem capazes de favoreçer aprimoramento contínuo das competências requeridas para o crescimento na carreira. Enfatizo que não se trata apenas de fazer curso, embora na maioria das vezes seja desejável, mas de incorporar práticas que favoreçam seu pleno desenvolvimento.
   O que há de comum entre essas duas situações? O que já é sabido e comprovado na formação de adultos: as pessoas absorvem mais conhecimento pela aprendizagem situada do que por meio de cursos formais (pesquisas apontam que apenas 20% da aprendizagem decorre destes). O detalhe importante, do qual os mais imediatistas se esquecem, é que sem uma boa base de educação formal fica difícil até identificar oportunidades de aprendizagem situada. Daí a tentação de simplesmente cortar esses 20%, e só manter os outros 80%, já que são mais efetivos e, normalmente, bem mais divertidos... Mas sem os 20% de boa formação, esses 80% podem cair por terra. O fato de o percentual ser baixo não significa que não gere impacto expressivo. Basta lembrar que, segundo a revista Proceedings of the National Academy of Sciences de 2002, a diferença genética entre homens e chimpanzés seria algo em torno de 5%... Captou?
   Recentemente, participei do Seminário de Liderança, no The Aspen Institute (Colorado, EUA), centro de excelência fundado há 60 anos pelo empresário Walter Paepcke, presidente da Container Corporation of America, e pelo filósofo Mortimer Adler, que liderava o Seminário Grandes Livros, na Universidade de Chicago.
   A participação de Paepcke no seminário de Adler inspirou a criação do Seminário Executivo do Instituto, que é um fórum baseado nos escritos dos grandes pensadores. Por meio da leitura e discussão de seleções de obras de escritores clássicos e modernos, os líderes entendem melhor os desafios enfrentados pelas organizações e comunidades a que servem. Este seminário, que a meu ver é da maior relevância, tem desafiado os líderes em cada campo (fazem questão de ter representantes dos setores privado, público e terceiro setor) a pensar mais crítica e profundamente sobre a “Boa Sociedade” que desejam construir. Por isso, fiquei pensando como seria importante e apropriado termos esse tipo de discussão entre os três setores aqui no Brasil, sem “intelectualismos” nem “ideologismos”, para refletirmos sobre o País que queremos ser de fato.
   Por outro lado, percebi que meu desafio, contemplando o equilíbrio entre aprendizagem formal e aprendizagem situada, como mencionei no início, não seria fácil de ser superado. Mas estou tentando: compartilhar com você, leitor, é uma primeira ação. Também tenho procurado trocar ideias com outros executivos e colegas de profissão sobre as leituras que fiz e o propósito do seminário. Para alguns executivos que oriento no PDI, indiquei que também participem desse seminário. Além de enfatizar em minhas aulas a importância da filosofia e das humanidades na formação de executivos.
   Este é o grande desafio de todos nós: transformar educação formal em prática com resultado ético!

* É ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO CORPORATIVA, PROFESSORA DE FEA-USP E DA FIA

Fonte: Estadão.com.br/Educação